A Igreja Católica de França vai abrir uma investigação sobre as acusações de alegados casos de abuso e assédio sexual feitas contra um padre, que morreu em 2007, e cuja a campanha pelos pobres e sem-abrigo o fez ser venerado como "um santo moderno", avança o The Guardian.

Em julho deste ano, sete mulheres acusaram Abbé Pierre de agressão sexual e, desde então, a Emmaüs France, organização fundada pelo pároco, disse ter recebido mais 17 depoimentos, entre eles acusações "muito sérias" de abuso sexual contra diversas vítimas, incluindo, pelo menos, uma que ainda era criança na época dos supostos crimes.

Numa declaração conjunta, a Fundação Abbé Pierre, a Emmaüs France e a Emmaüs International disseram: “A violência e a extrema seriedade de alguns destes novos testemunhos foram um choque adicional no coração das nossas organizações”.

As instituições reiteraram o “apoio total às vítimas”, elogiando a “coragem” daqueles que denunciaram os casos: “Acreditamos e apoiamos”, disseram.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Até ao ano passado, Abbé Pierre era um ícone nacional, considerado o epítome do auto-sacrifício cristão pelo seu trabalho humanitário. No entanto, após alguns boatos de alegados casos de abuso, os arquivos da Igreja confirmaram que a instituição estava preocupada com o comportamento do religioso desde a década de 1950.

A Emmaüs, que tem 425 filiais em 41 países, procura agora distanciar-se do seu fundador e votará pela remoção do nome do padre do seu logótipo numa assembleia-geral especial, agendada para dezembro.

Adrien Chaboche, chefe da Emmaüs International, afirmou: “O nosso movimento está chocado com estas revelações que trouxeram um antes e um depois à nossa história”. Numa entrevista à rádio RFI acrescentou: “Cada filial terá que refletir sobre o espaço que está a dar a Abbé Pierre. Não estamos a dar instruções, mas encorajamos as pessoas a serem responsáveis ​​pelas escolhas que fazem, já que a imagem do Abbé Pierre agora é a de um predador sexual”.

Há uns tempos, a Emmaüs contratou uma empresa independente, a Egaé, para investigar as acusações e reunir mais declarações das supostas vítimas.

As alegações datam da década de 1950 e prolongam-se até 2005 e os crimes terão ocorrido em França, na Suíça, nos Estados Unidos da América e em Marrocos.

O relatório da Egaé, publicado a 17 de julho, descrevia a existência de “contacto sexual repetido com uma pessoa vulnerável”, “atos sexuais penetrativos repetidos” e “contacto sexual com uma criança”.

Uma mulher alegou que foi “forçada a assistir Abbé Pierre a masturbar-se e a fazer sexo oral num apartamento em Paris”, em 1989. Outra alegação refere-se a uma mulher que disse que o padre a beijou “com a língua” e tocou-lhe no peito, em meados da década de 1970, quando esta ainda tinha nove anos.

Segundo os investigadores, houve mais relatos de supostos abusos, mas foram excluídos por serem anónimos ou pela ausência de detalhes suficientes.

Chaboche afirmou que a Emmaus estava à procura de uma forma de compensar as vítimas, mas confessou que “é um processo longo e difícil”.

A Fundação Abbé Pierre mudará também de nome e o centro memorial Abbé Pierre, em Esteville, na Normandia, onde o padre residiu durante muitos anos, será fechado permanentemente.