“Pelo menos oito viaturas passaram no local do acidente, sem ocorrências, mas poderão ter sido mais porque faltam cerca de três minutos do vídeo de vigilância” disse hoje ao Tribunal de Santarém o militar da GNR que elaborou o relatório final da investigação ao acidente que vitimou Sara Carreira.
Durante a primeira sessão do julgamento, o militar mostrou ao tribunal imagens do acidente ocorrido no dia 5 de dezembro de 2020, pedidas ao Centro de Controlo Operacional da Brisa e usadas na investigação em que a GNR concluiu que Paulo Neves circulava a uma velocidade entre os 28,04 e 32,28 quilómetros/hora, inferior à mínima permitida por lei (50 Km/h), e depois de ter ingerido bebidas alcoólicas.
O depoimento do militar contrariou as declarações prestadas por este arguido, durante a manhã, quando disse ao tribunal que circulava a uma velocidade entre os 70 e os 80 quilómetros.
O relatório apresentado pelo militar confirmou as velocidades atribuídas a cada condutor na acusação (a fadista Cristina Branco menos de 120 Km/h, o namorado de Sara Carreira, Ivo Lucas, entre 131,18 e 139,01 Km/h e Tiago Pacheco entre 146,35 e 155,08 Km/h).
Esse relatório fundamentou ainda a convicção do militar de que possa ter havido “distração” por parte dos três primeiros envolvidos e “irresponsabilidade” por parte do último arguido, que “não reduziu a velocidade” ao atravessar entre os carros acidentados, acabando por embater na viatura conduzida por Ivo Lucas.
Na sessão de hoje foram ainda ouvidos um militar da primeira patrulha a chegar ao local do acidente e duas testemunhas que prestaram assistência aos sinistrados, antes da chegada das equipas de socorro.
Entre elas um antigo bombeiro e a companheira, que recolheu Ivo Lucas no seu carro, depois de o encontrar a atravessar a A1, sem t-shirt e com uma fratura no pulso.
“Ele estava muito confuso, falava de alguém que faleceu há pouco tempo e perguntava pela namorada”, disse, acrescentando que o namorado de Sara Carreira não revelou a identidade da vítima mortal, dizendo tratar-se de “uma pessoa muito conhecida e conceituada”.
No final da audiência, o pai de Sara Carreira, Tony Carreira, disse aos jornalistas “estar desiludido” com os testemunhos ouvidos na primeira sessão em que Ivo Lucas e Cristina Branco afirmaram não se lembrar de alguns acontecimentos do dia do acidente.
“Tenho muita compaixão para dar e vender, mas não por mentira”, afirmou, rematando que “a amnésia está na moda nos tribunais”.
Já o seu advogado, Magalhães e Silva, disse não estar desiludido “do ponto de vista da produção da prova”, mas partilha do sentimento do cliente no que toca os “aspetos humanos que efetivamente tocam as pessoas”.
O advogado vincou que “as pessoas vão tendo memórias construídas e vão tendo esquecimentos naturais, afirmando não fazer “qualquer juízo de intenção” sobre isso e considerando natural que Cristina Branco, que foi ouvida durante a manhã, tenha à tarde entregue um requerimento a pedir para ser dispensada da audiência por “questões de saúde”.
O julgamento prossegue na quarta-feira, às 09:30, no Tribunal de Santarém, com a audição de testemunhas de acusação arroladas por Tony Carreira e de um perito.
No julgamento são arguidos Paulo Neves, que conduzia alcoolizado e abaixo do limite de velocidade, Cristina Branco que embateu na viatura deste, o cantor Ivo Lucas, que viajava com Sara Carreira e chocou com o carro da fadista, e Tiago Pacheco, que embateu no carro conduzido por Ivo Lucas.
Os três homens são acusados do crime de homicídio por negligência grosseira e Cristina Branco do crime de homicídio por negligência.
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