A saída de Jimmy Lai de uma esquadra da polícia de Hong Kong foi acompanhada por um ruidoso grupo de apoiantes, que o vitoriaram.
Jimmy Lai, de 72 anos, é o proprietário de duas publicações pró-democracia e frequentemente críticas de Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine.
Visto por numerosos habitantes de Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, Jimmy Lai é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como "um traidor", que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar com nações estrangeiras para prejudicar a China.
Os cidadãos de Hong Kong saíram às ruas nesta terça-feira para comprar exemplares do Apple Daily, um símbolo do apoio da população ao jornal pró-democracia.
Lai estava entre as 10 pessoas detidas na segunda-feira numa grande operação contra o movimento pró-democracia. Quase 200 agentes da polícia participaram numa operação de busca e apreensão na redação do Apple Daily, um jornal muito crítico ao regime de Pequim.
Mas numa nova demonstração da popularidade da oposição na ex-colónia britânica, os moradores compareceram em peso às bancas de jornais nesta terça-feira para comprar o Apple Daily, que já tinha antecipado a procura e preparou uma tiragem excepcional de 550.000 exemplares, contra os habituais 100.000.
O dono de um restaurante do popular bairro de Mongkok adquiriu 50 cópias e explicou que planeava distribuir gratuitamente aos clientes.
"Como o governo não quer que o Apple Daily sobreviva, nós, cidadãos de Hong Kong, devemos salvá-lo", afirmou o homem, que se apresentou com o nome de Ng.
"Lutaremos", afirma na primeira página a edição de hoje do Apple Daily, uma promessa escrita a vermelho sobre uma foto de Jimmy Lai a ser levado por polícias na redação do jornal. Outra demonstração de solidariedade a Lai foi a subida do valor em quase 800% das ações do seu grupo, Next Digital, após a sua detenção.
Em meados de junho, duas semanas antes de ser aprovada a nova lei de segurança nacional, Jimmy Lai disse à AFP esperar a detenção.
"Estou pronto para ir para a prisão. Se isso acontecer, terei oportunidade de ler livros que ainda não li. A única coisa que posso fazer é ser positivo", afirmou.
Para o empresário, a nova lei "vai substituir" o regime legal de Hong Kong e "destruir o estatuto financeiro internacional" da cidade.
Dois filhos do empresário também foram detidos, assim como a jovem militante democrática Agnes Chow e Wilson Li, um ex-ativista que se apresenta como jornalista independente para a emissora britânica ITV News.
A lei da segurança nacional criminaliza atos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.
O documento entrou em vigor em 30 de junho, após repetidas advertências do Governo de Pequim contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.
Hong Kong regressou à soberania da China em 1997, com um acordo que garante ao território 50 anos de autonomia a nível executivo, legislativo e judicial, bem como liberdades desconhecidas no resto do país, ao abrigo do princípio “um país, dois sistemas”, também aplicado em Macau, sob administração chinesa desde 1999.
*com AFP
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