A perícia contradiz parcialmente a versão da brasileira Vale, maior produtora e exportadora de ferro do mundo, e sustenta que a rutura da barragem que a empresa usava para armazenar os resíduos minerais ocorreu devido a uma série de perfurações verticais realizadas dias antes da tragédia.
Segundo a Vale, o rompimento da barragem, que gerou uma onda de resíduos que cobriu milhares de hectares e deixou 259 mortos e 11 desaparecidos há dois anos, foi causado por uma mistura de fatores, como o peso elevado da estrutura e as fortes chuvas que caíram naquela semana.
No entanto, a Polícia Federal afirmou que a Vale contratou uma empresa para avaliar o estado da barragem, a fim de instalar novos equipamentos para medir a pressão interna da barragem.
A empresa contratada, cujo nome não foi revelado pelas autoridades, apresentou um relatório com os resultados do estudo, mas, segundo as autoridades brasileiras, a Vale não fez uma análise aprofundada do mesmo e começou a perfurar em alguns pontos do local onde os resíduos estavam sedimentados.
Cinco dias antes da tragédia, perfuraram um local considerado crítico da barragem, atingindo uma profundidade de 68 metros, que deu início a um processo de liquefação dos resíduos minerais que se estendeu por toda a represa.
Esse processo de liquefação, no qual o material passa do estado sólido para o líquido, ocorreu de forma muito rápida e devido ao movimento causado pelas perfurações, segundo os investigadores.
“A liquefação processa-se de forma tão rápida que se formou 30 segundos antes da rutura. Os instrumentos (de monitorização) não conseguiram capturá-la”, explicou o perito federal Leonardo Mesquita de Souza, responsável pelo relatório, em conferência de imprensa,
O aumento do volume líquido pressionou excessivamente a barragem, cuja estrutura “em geral” já era “frágil” por si só, para vir a ruir logo em seguida, segundo Mesquita De Souza.
“Houve um atropelo. A Vale deveria ter verificado primeiro o diagnóstico da empresa contratada”, disse aos jornalistas o comissário encarregado da investigação, Luiz Augusto Pessoa.
O relatório apresentado hoje servirá para o Ministério Público eventualmente apresentar uma acusação na esfera criminal contra os possíveis responsáveis pelo desastre.
Numa primeira fase da investigação, a Polícia Federal moveu ações em 2019 contra um grupo de executivos da Vale e da empresa alemã Tüv Süd por atestar, de forma fraudulenta, a segurança da barragem.
A empresa mineira Vale informou, em comunicado, que “avaliará” o conteúdo do relatório pericial apresentado hoje e “oportunamente se manifestará nos autos por meio” dos seus advogados.
Na esfera cível, a gigante da mineração acordou este mês com o Ministério Público o pagamento de 37.689 milhões de reais (5,57 mil milhões de euros) como indemnização pelos danos causados em Brumadinho.
A rutura da barragem causou um mar de lama que, em questão de segundos, enterrou residências próximas e parte das próprias instalações da empresa.
Outro episódio semelhante ocorreu no final de 2015 em Mariana, município que, assim como Brumadinho, também fica no estado de Minas Gerais e onde a rutura de outra barragem da mineira Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, causou 19 mortes e uma gigantesca tragédia ambiental.
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