Em declarações à agência Lusa, o arqueólogo responsável, António Valera, disse tratar-se de “de uma construção monumental em madeira, de que restam as fundações, de planta circular e com mais de 20 metros de diâmetro”.
Segundo Valera, esta construção “seria composta por vários círculos concêntricos de paliçadas e alinhamentos de grandes postes ou troncos de madeira, a qual foi já exposta em cerca de um terço da sua planta”.
Trata-se de “uma construção de carácter cerimonial”, um tipo de estrutura apenas conhecido na Europa Central e nas Ilhas Britânicas, de acordo com o arqueólogo responsável, com as designações como ‘Woodhenge’, “versões em madeira de Stonehenge”, ou ‘Timber Circles’ (círculos de madeira).
“Esta é a primeira a ser identificada na Península Ibérica, estando datada entre 2800-2600 antes de Cristo (a.C.), ou seja, será anterior à construção em pedra de Stonehenge [em Inglaterra], para a qual se tem avançado uma cronologia em torno a 2500 a.C.”, sublinhou o arqueólogo.
A estrutura agora identificada localiza-se no centro do grande complexo de recintos de fossos dos Perdigões e “articula-se com a visibilidade sobre a paisagem megalítica que se estende entre o sítio e a elevação de Monsaraz, localizada a nascente, no horizonte”.
“Um possível acesso ao interior desta estrutura encontra-se orientado ao solstício de verão, reforçando o seu carácter cosmológico”, referiu Valera, realçando que “esta situação é também conhecida noutros ‘woodhenges’ e ‘timber circles’ europeus, onde os alinhamentos astronómicos das entradas são frequentes, sublinhando a estreita relação entre estas arquiteturas e as visões do mundo neolíticas”.
O arqueólogo realçou que “esta descoberta reforça a já elevada importância científica do complexo de recintos dos Perdigões no contexto internacional dos estudos do Neolítico Europeu, aumentando simultaneamente a sua relevância patrimonial”, que foi reconhecida em 2019 com a classificação como Monumento Nacional.
O sítio arqueológico dos Perdigões, nos arredores de Reguengos de Monsaraz, corresponde a “um grande complexo de recintos de tendência circular e concêntrica definidos por fossos, abrangendo uma área de cerca de 16 hectares e tendo um diâmetro máximo de cerca de 450 metros”, segundo informação da Era.
Este sítio está ser escavado há 23 anos pela empresa e tem reunido colaborações de várias instituições e investigadores nacionais e estrangeiros.
O sítio apresenta uma cronologia de cerca de 1400 anos, desde o final do Neolítico Médio (cerca 3400 a.C.) e o início da Idade do Bronze (cerca de 2000 a.C.) e “é visto essencialmente como um grande centro de agregação de comunidade humanas, onde se desenvolveriam práticas cerimoniais, se geriam relações identitárias, culturais e políticas entre diferentes grupos”.
A sua implantação na paisagem “é representativa do seu carácter cosmogónico”, situando-se “num anfiteatro natural, aberto ao vale da Ribeira de Vale do Álamo, onde se localiza uma das maiores concentrações de monumentos do megalitismo alentejanos. As entradas dos recintos mais exteriores, e outras em recintos mais interiores, estão orientadas aos solstícios ou aos equinócios, funcionando o horizonte para o qual está virado como um autêntico calendário anual do nascer do sol”, segundo a Era – Arqueologia.
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