Segundo um artigo publicado na revista holandesa de divulgação científica "Archeologie Magazine", assinado por António Félix Rodrigues, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e do Ambiente da Universidade dos Açores, e por Henk van Oosten, investigador independente holandês, a peça permite perceber e datar aproximadamente a ocupação humana da ilha, oficialmente descoberta pelos portugueses em 1431.
Ao Expresso, António Félix Rodrigues refere que esta descoberta "aponta mais uma vez para a presença nos Açores de uma cultura atlântica da Idade do Bronze e da Idade do Ferro, que ia do Mediterrâneo à Galiza". A cerâmica "é semelhante à terracota, foi seca ao sol e é feita de argila, resina, cinza de madeira, erva para lhe dar consistência e pequenos pedaços de obsidiana moídos", explica o professor, dizendo que os materiais utilizados "são de origem local".
Assim, é possível dizer que a peça tem cerca de 2530 anos: a datação da peça de cerâmica foi feita por carbono 14 pela empresa norte-americana Beta Analytic Lab, havendo uma margem de erro de mais ou menos 30 anos.
Contudo, a construção de onde foi extraída a peça de cerâmica, de um orifício cilíndrico, "pode ser mais antiga", uma vez que existem na região "vários dólmenes comparáveis aos dólmenes identificados no continente europeu".
Além desta descoberta, o artigo publicado vem também referir um possível columbário — espécie de cemitério onde são depositadas as cinzas dos mortos — na Ribeira dos Bispos, na ilha de São Miguel, "com uma tipologia e envolvência semelhantes aos que encontramos na região do Mediterrâneo".
Desta forma, é possível constatar que "os povos que habitaram os Açores tinham ligações com outras regiões, isto é, havia uma navegação no oceano Atlântico, viagens longas, em épocas anteriores", de acordo com o investigador. Com estas descobertas, pode mesmo referir-se que há " uma história dos Açores mais antiga do que se esperava".
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