Segundo um comunicado da Câmara de Santiago do Cacém, os vestígios arqueológicos, encontrados em algumas das artérias do centro histórico da vila de Alvalade, obrigaram à interrupção pontual dos trabalhos de requalificação “para que possam ser realizadas as escavações arqueológicas e a posterior exumação e estudo antropológico das ossadas”.

“Vamos aguardar pelos resultados dos trabalhos de arqueologia e análise para sabermos do que se trata efetivamente, mas suspeitamos que será um cemitério, tendo em conta o número de ossadas que foram descobertas, havendo ainda a particularidade de estarem enterradas a pouca profundidade”, afirmou o presidente da câmara, Álvaro Beijinha.

Segundo o município, na rua 25 de Abril, foram encontrados “quatro enterramentos” e, no Largo 25 de Abril, “surgiu um conjunto de sete sepulturas que apontam para a presença de uma necrópole na zona contígua à Igreja Matriz” de Alvalade.

“Estes corpos foram enterrados em fossas e colocados da mesma forma, com a cabeça para oeste e os pés para este, um conhecido padrão cristão, em que se acreditava que quando o morto renascia olharia para este, no sentido de Jesus Cristo”, refere a autarquia.

Os trabalhos de requalificação permitiram ainda identificar, na rua 31 de Maio, “uma arcada de pequenos tijolos em argamassa que fez parte de uma galeria antiga para escoar as águas da chuva”.

“Não se sabe em que século esta galeria funcionou, provavelmente, durante o século XIX”, avançou a arqueóloga Lídia Vírseda, da empresa ArqueoHoje e responsável pelo acompanhamento arqueológico dos trabalhos.

Segundo a autarquia, na rua 25 de Abril, junto à antiga Casa dos Magistrados, foi descoberto “um muro com um canto arredondado junto a duas fossas, onde estava enterrada uma grande talha cerâmica, com três buracos feitos na pança e um buraco maior no fundo”, tratando-se de “uma das descobertas mais interessantes” de todo o conjunto escavado até agora.

“Dentro da fossa, descobriram-se lajes de calcário e xisto partidas. Ao escavarmos percebemos que as lajes se colavam entre si. Com a ajuda dos trabalhadores da obra, levantaram-se as lajes e fez-se o puzzle, tratava-se de uma grande mó. Provavelmente foi um lagar, ligado à Casa dos Magistrados", avançou a arqueóloga, citada no comunicado da autarquia.

Os trabalhos colocaram também a descoberto o primeiro chão da Praça D. Manuel I, zona principal da vila de Alvalade, no litoral alentejano, “feito de seixos e argamassa, tal como os antigos passeios e arruamentos em calçada, provavelmente, contemporâneos da Igreja da Misericórdia e do Pelourinho” da localidade.

Já na rua de São Pedro, foram descobertos troços do antigo pavimento, com o lancil conservado, sendo “provável que este chão seja do mesmo momento em que se construiu a antiga casa, que ainda está de pé, onde viviam os magistrados” acrescentou a arqueóloga.

Além do acompanhamento científico das descobertas, a autarquia decidiu reforçar a equipa de investigadores com mais dois arqueólogos e um antropólogo, “que será responsável pela escavação e estudo dos esqueletos humanos”, ao mesmo tempo que decorrem as obras no Largo 25 de Abril.

“Dependendo dos resultados de uma primeira análise, vamos apurar se esta descoberta merece um estudo mais aprofundado e inclusivamente ser exposta”, concluiu o autarca.