No ranking das 5 nacionalidades que mais compraram imóveis em Lisboa, entre 2018 e o primeiro semestre de 2024, destacam-se os cidadãos de origem norte-americana. Assim, se em 2018 e 2019 estavam em quinto lugar, em 2023 e 2024 ocuparam o primeiro lugar dos cidadãos estrangeiros que mais compraram casa em Portugal, segundo dados do Confidencial Imobiliário.
Na conferência subordinada ao tema “O fluxo de investidores imobiliários norte-americanos em Portugal”, promovida pela consultora imobiliária Quintela e Penalva| Knight Frank, em que o SAPO24, uma coisa ficou clara: não existe um perfil definido para o investidor norte-americano.
Um país cada vez mais conhecido lá fora
Para Rodrigo Carvalho, presidente da Câmara de Comércio de Portugal em Nova Iorque, existe uma razão evidente para o crescente interesse dos norte-americanos em Portugal nos últimos anos e prende-se com a venda da TAP em 2015 ao consórcio Atlantic Gateway, liderado por David Neeleman (fundador da norte-americana jetBlue Airways e dono da Azul Linhas Aéreas Brasileiras), e por Humberto Pedrosa (CEO do Grupo Barraqueiro) o que possibilitou o aumento de voos para as principais cidades dos Estados Unidos (EUA) e um maior conhecimento dos americanos sobre Portugal.
Importa sublinhar que, de acordo com o Turismo de Portugal, os principais mercados de turistas em Portugal em 2023, no indicador hóspedes são Espanha com 2,4 milhões, Reino Unido com 2,3 milhões, EUA com 2,0 milhões, França com 1,7 milhões e Alemanha com 1,6 milhões de hóspedes em hotéis.
Contudo, nesse mesmo ano, mais que todos os outros, os turistas norte-americanos deixaram por cá 2,5 mil milhões de euros em receitas turísticas.
Como outros fatores de sucesso para o mercado imobiliário português, o presidente da Câmara de Comércio de Portugal em Nova Iorque aponta os serviços baratos (como serviço doméstico), a qualidade de vida, nomeadamente o acesso ao SNS e a seguros de saúde baratos (em comparação com os EUA) e a fuga a Donald Trump eleito pela primeira vez em 2026.
Além disso, Portugal é hoje em dia uma referência ao nível da inovação tecnológica e científica, nomeadamente no mercado farmacêutico e a qualidade da mão de obra é um fator importante para investir em Portugal.
Mais ainda o país tem feito nos últimos anos uma grande aposta nas energias renováveis, o que permite a empresas norte-americanas ficarem aqui e cumprirem as regulamentações que em outros países são mais caras de obter.
Rodrigo Carvalho salienta ainda que os norte-americanos procuram sobretudo uma 2.ª habitação "algo que é comum nesta nacionalidade como é o caso das segundas casas na Flórida para escapar ao frio de outras cidades mais a norte", refere.
Além disso, o sistema de ensino com cada vez mais oferta internacional, nomeadamente a nível privado e universitário, a proficiência em língua inglesa, bem como a segurança do país são fatores que os norte-americanos privilegiam.
"Há um fascínio por Portugal como parte da Europa e do velho mundo"
Marcos Drummond, diretor comercial da VIC Properties, que desenvolve de projetos residenciais de grande escala como o Prata Riverside Village, em Lisboa, concebido pelo famoso Atelier italiano de Renzo Piano - RPBW Arquitetos, sublinha que investidores norte-americanos estão sobretudo fascinados por Portugal e pelo "velho mundo".
"Há um fascínio por Portugal como parte da Europa e do velho mundo", admite. Além disso, o público americano "conhece os arquitetos de novos projetos de reabilitação, semelhantes a cidades norte-americanas e sabem que é um investimento no futuro".
É um facto também que muitos investidores já procuram segunda casa em Portugal e querem projetos semelhantes aos que já compraram.
Além disso, investir em Portugal é no geral mais barato, apesar de não existir qualquer benefício fiscal em fazê-lo. "Enquanto um americano é vivo, normalmente não abdica da sua nacionalidade, e paga impostos nos EUA", destaca.
Qual a tendência de investimento? "Não existe"
Sobre o tipo de investimento dos norte-americanos, Jorge Costa, COO da Quintela e Penalva refere que "não existe uma tendência, o que os fascina é a Europa".
Mais ainda, Marcos Drummond destaca a grande importância dada aos projetos de cada investimento, nomeadamente se existe elevador ou estacionamento. O arquiteto é também valorizado, nomeadamente se for um nome conhecido no panorama internacional, sendo que os arquitetos portugueses não são assim tão conhecidos como normalmente se pensa.
A realidade do teletrabalho trazido pela pandemia acelerou também o investimento de estrangeiros em Portugal. No caso dos norte-americanos permite que trabalhem nos cá em empresas dos EUA ao mesmo tempo que aproveitam para viver em cidades com menos trânsito e viajam para vários países da Europa que estão a curta distância de Portugal.
"O investidor americano é todo diferente e mais americanos trazem ainda mais americanos", refere Drummond.
As casas procuradas são mais modernas, mais tecnológicas e mais adaptáveis. "Quando se queixam de alguma coisa é o frigorífico e alteram projetos por causa disso", sublinhou ainda.
"Procuram autenticidade, mas não querem viver numa cabana. Depende do projeto de vida", termina.
"Um país boutique"
Sofia Baptista, diretora do departamento de parcerias da Quintela & Penalva, acrescenta ainda que Portugal se tornou "um país boutique" para os norte-americanos com todas as vantagens desde os seguros de saúde, ao trânsito, à qualidade das escolas e universidades. "Um americano tem dificuldade em perceber que Setúbal não é Lisboa", aponta, fazendo referência à proximidade dos subúrbios e dos grandes centros urbanos.
"É qualidade de vida semelhante aos melhores países europeus, mas mais barato", refere a especialista no serviço aos clientes americanos que procuram casa em Portugal. "É preciso um grande rendimento nos EUA para ter a qualidade de vida que existe aqui", refere.
A acrescentar a estes fatores, Sofia Baptista, sublinha ainda a descrença na política americana no geral como um fator para mudar de país. "É algo no geral, não é apenas relacionado com Trump".
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