"Com todas estas surpresas sanitárias e com o risco de termos, nas próximas duas décadas, novamente milhões de pobres e miseráveis, a cooperação tem que se adaptar a essas realidades e estar sempre muito atenta a outros atores", disse João Ribeiro de Almeida.
"É completamente incontornável, temos de ter mais setor privado a fazer cooperação", acrescentou, considerando que esta era já uma necessidade anterior à pandemia, que esta veio tornar mais premente.
Considerou, por outro lado, que é preciso combater a desconfiança relativamente ao envolvimento dos privados na ajuda pública ao desenvolvimento.
"Não sei como é que se pode fazer cooperação em velocidade de cruzeiro sem ter o setor privado connosco de forma direta ou indireta", afirmou.
O diplomata, que há cinco meses passou a liderar a agência pública de cooperação, falava em entrevista à agência Lusa sobre os desafios trazidos pela pandemia na área da Ajuda Pública ao Desenvolvimento de Portugal.
"Temos de fazer com que a cooperação seja mais gerível, mais abrangente, tenha mais eficácia e se faça em função das necessidades das populações. E para isso, temos de ter outros atores que não apenas os clássicos", disse.
Neste contexto, garantiu que o novo conceito estratégico de cooperação, que o Governo tem em preparação, contará na sua elaboração com a contribuição e o envolvimento mais amplo possível de todos os intervenientes do setor.
Sobre os projetos imediatos da cooperação portuguesa, João Ribeiro de Almeida adiantou que Portugal começou a negociar novos Programas Estratégicos de Cooperação (PEC) 2021-2025 com São Tomé e Príncipe, Moçambique e Cabo Verde.
Com São Tomé e Príncipe, o presidente do Camões considerou que o programa "terá de continuar a ter uma componente de saúde muito grande”.
Ainda sem previsão de quando poderá ser assinado, o novo PEC está avaliado em 55 milhões de euros, segundo informação avançada em fevereiro pela diplomacia portuguesa em São Tomé e Príncipe.
O programa com Moçambique está, segundo o presidente o IC, nos trabalhos preparatórios de identificação das áreas que irá incluir.
"Não faz sentido que não esteja no próximo PEC com Moçambique um capítulo especial para as zonas mais vulneráveis de pobreza e miséria, incluindo Cabo Delgado", disse, estimando que os projetos abranjam as áreas da educação, saúde, formação, igualdade de género e combate à pobreza.
Com Cabo Verde, será um programa "de continuidade com algum reforço", disse João Ribeiro de Almeida, ressalvando que qualquer destes programas resulta sempre de uma negociação com as autoridades dos países beneficiários.
"Com Moçambique e Cabo Verde gostaríamos que pudessem ser assinados nas cimeiras bilaterais previstas para o final do ano", disse.
Os países africanos de língua portuguesa (PALOP) e Timor-Leste são os principais beneficiários da ajuda pública ao desenvolvimento de Portugal.
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