“Acho que houve um desenvolvimento nos Açores acentuado em termos de infraestruturas. Acho que houve um desenvolvimento adequado de investimentos prioritários em termos de comunicações e tecnologias, mas não houve garantidamente um desenvolvimento harmonioso nas nove ilhas dos Açores”, avançou, em entrevista à agência Lusa.
Antigo candidato à liderança do PSD, o empresário Paulo Silva integrou o Aliança pelas mãos de Pedro Santana Lopes, que descreveu como “uma referência em termos políticos” e um “amigo”, porque sentiu que a política nos Açores tinha “perdido humanismo”.
O partido, criado em 2018, concorre pela primeira vez às eleições legislativas regionais dos Açores, com listas em três dos 10 círculos eleitorais, e Paulo Silva encabeça a lista pela ilha Terceira, a segunda mais populosa do arquipélago, de onde é natural, apesar de residir há 30 anos em São Miguel.
Sem traçar metas para a primeira prova de fogo do Aliança nos Açores, o candidato assume “total responsabilidade pelo resultado eleitoral” e diz que o contacto com a população tem sido “muito positivo”, mas as pessoas “estão acomodadas”.
“Não estou nada preocupado se os açorianos vão votar no Aliança ou não. Vou fazer de tudo para que eles votem, mas no dia seguinte tenho trabalho. Vou para a minha vida profissional e vou muito feliz. Tirei este tempo da minha vida para a causa pública, que eu amo, que eu gosto desde miúdo”, apontou.
Em 24 anos de governação socialista, nem tudo foi mau, para o líder do Aliança/Açores, mas houve “muitos investimentos desastrosos” e é preciso alterar o modelo económico e social para que “os jovens queiram voltar, constituir família e desenvolver empresas”.
“Sabemos que há investimentos estruturantes que é preciso fazer. Estão quase todos feitos, agora é preciso humanizar. Precisamos de políticas de humanização, de pôr as pessoas a darem o melhor que têm”, frisou, alegando que tem de haver um “crescimento igual para as nove ilhas”.
Paulo Silva defendeu que é preciso valorizar os profissionais de saúde, criar um regime de reformas antecipadas para os docentes e tornar as escolas mais atrativas.
“A educação é fundamental. Só criaram cimento, não humanizaram, não deram valor aos profissionais, tal e qual como na saúde. Nós estamos a criar a melhor geração de sempre, uma geração com uma cultura, com um conhecimento impressionante. Vamos deixá-los fugir todos?”, questionou.
Outra das batalhas do Aliança é a inclusão na sociedade, não apenas de pessoas com deficiência e demências, mas também dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), que segundo o Paulo Silva foi uma boa medida, mas mal aplicada nos Açores.
“Vamos criar uma economia social, reintegrá-los numa economia social. Quem não pode, não pode, mas quem pode tem de ser integrado na sociedade e numa economia social todos podem entrar”, frisou.
O candidato do Aliança propõe ainda a construção de residências universitárias para estudantes açorianos em Lisboa, Porto e Coimbra, a criação de cidades desportivas nas ilhas Terceira e São Miguel, a promoção de um turismo sustentável e ligado à cultura e uma mudança na política de transportes aéreos e marítimos.
Por outro lado, defende uma estratégia para a agricultura, que aposte na diversidade e numa produção com o mínimo de químicos possível.
“Não queremos mais peixe, queremos cana, porque os açorianos são bons a pescar. Não queremos que deem tudo feito, de quatro em quatro anos, porque depois volta tudo à normalidade”, realçou.
Segundo Paulo Silva, há “um poder instalado na região assustador, digno de investigação”, por isso é preciso acabar com a maioria absoluta socialista.
“O PS não pode governar mais os Açores. Da parte da Aliança não há acordo nenhum com o PS. Queremos que o PS saia, porque o PS está cansado. Instalou um sistema em que só se preocupa com a governança”, reiterou.
Já a oposição, acusou o candidato do Aliança, “não denuncia e não tem uma força que os cidadãos sintam que estão a ser defendidos com causas justas”.
Em julho de 2019, Paulo Silva foi constituído arguido no âmbito da “Operação Nortada”, da Polícia Judiciária, que investigava suspeitas de crimes de peculato, prevaricação, abuso de poder e falsificação de documentos na contratação de um artista brasileiro para a Ribeira Grande, na ilha de São Miguel.
O processo “continua a decorrer”, mas Paulo Silva disse esperar que o resultado “saia o mais rápido possível”, sublinhando que foi apenas o produtor do evento.
“Só sou candidato porque tenho a consciência muito tranquila, senão nunca seria”, assegurou.
Nas anteriores legislativas açorianas, em 2016, o PS venceu com 46,4% dos votos, o que se traduziu em 30 mandatos no parlamento regional, contra 30,89% do segundo partido mais votado, o PSD, com 19 mandatos, e 7,1% do CDS-PP (quatro mandatos).
O BE, com 3,6%, obteve dois mandatos, a coligação PCP/PEV, com 2,6%, um, e o PPM, com 0,93% dos votos expressos, também um.
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