Numa conferência de imprensa em Ponta Delgada para clarificação do posicionamento do partido face às possibilidades de governação na região na sequência das legislativas regionais de 25 de outubro, o porta-voz do PAN/Açores disse que o partido “nunca alinhará em visões extremadas ou afastadas da promoção dos direitos sociais e humanos”.
“Como dissemos várias vezes nesta campanha, o futuro do arquipélago não é compatível com políticas xenófobas, racistas, sexistas, capacitistas, homofóbicas ou transfóbicas e que impeçam a liberdade de expressão, a liberdade religiosa ou que vedem o acesso condigno a bens e serviços da comunidade açoriana”, frisou Pedro Neves.
O PAN é “claramente contra qualquer solução governativa que inclua o populismo não democrático que ameaça atualmente o país”, daí que não possa “viabilizar governos com o encosto de um partido que entende que a solução passa por colocar de lado as duras conquistas pela igualdade perante a lei”.
Pedro Neves diz que o partido também “não alinhará com um Governo que não reforce o número de profissionais de saúde no arquipélago, não implemente medidas para terminar com a precariedade dos professores, não proteja ou valorize os comerciantes e profissionais da área do turismo, que tão fragilizados saíram com esta crise”, ou que “não se digne a estabelecer a carreira do bombeiro profissional".
“O PAN não alinhará com um Governo que não repense a sua posição sobre a mineração do mar profundo, que não termine com o abate de animais de companhia ou que continue a subsidiar centralmente a tauromaquia com dinheiros públicos”, acentuou.
Face aos vários cenários e soluções de governo que “continuam em aberto e que ainda não conhece totalmente à data, o PAN afirma assim que existe a disponibilidade, como sempre, para ouvir, dialogar e depois decidir”, mas “a principal linha vermelha está marcada”.
Pedro Neves referiu que, “nos últimos 10 dias, o PAN/Açores sentou-se nessa mesma mesa de conversação e negociação, sem filtros e sem rodeios, ouvindo as várias forças políticas e contrapondo com visões claras, linhas vermelhas e objeções contundentes a qualquer tipo de aliciamento político moldado por qualquer tipo de interesse pessoal”.
Durante a campanha eleitoral, o porta-voz do PAN/Açores e cabeça de lista por São Miguel declarou que “existem tiques ditatoriais” na Região Autónoma, onde o PS governa há 24 anos.
“Não podemos continuar a ter uma maioria absoluta. Obviamente que existem tiques ditatoriais”, declarou o dirigente no âmbito de uma ação de rua na baixa de Ponta Delgada, no penúltimo dia de campanha eleitoral para as legislativas regionais.
Pedro Neves acentuou que não quer “apoiar um governo socialista, mas sim dar a voz aos açorianos: temos o nosso programa e alertas vermelhos que um governo do PS nunca irá acompanhar”.
“Nós queremos que as pessoas votem no PAN, vamos continuar a ser isentos, não vamos dar a voz do PAN para ajudar o governo do PS”, disse.
O representante da República para a Região Autónoma dos Açores, Pedro Catarino, vai ouvir os partidos que elegeram deputados à Assembleia Legislativa da Região na sexta-feira e no sábado.
O primeiro partido a ser recebido no Solar da Madre de Deus, em Angra do Heroísmo, será o PAN, às 10:00 (11:00 em Lisboa) de sexta-feira, seguindo-se o Iniciativa Liberal, às 11:00, e o PPM, às 12:00.
Ainda na sexta-feira serão recebidos os representantes do BE, às 14:30, do Chega, às 15:30, e do CDS-PP, às 16:30.
No sábado, Pedro Catarino ouvirá os dirigentes dos dois partidos mais votados, o PSD, às 10:00, e o PS, às 17:00.
De acordo com os dados oficiais, publicados quarta-feira em Diário da República, o PS obteve 40.703 votos (correspondentes a 40,65% e a 25 mandatos no parlamento regional, perdendo a maioria absoluta), o PSD 35.094 (35,05%, 21 mandatos) e o CDS-PP 5.739, ou seja, 5,73% e três mandatos (o partido integrou ainda uma coligação com o PPM no Corvo que conseguiu eleger um deputado monárquico).
O Chega foi a quarta força mais votada, com 5.262 votos (5,26%, dois mandatos), seguindo-se o BE, com 3.962 (3,96%, dois mandatos), o PPM, com 2.415 (2,41%, um mandato, a que se soma o deputado eleito em coligação com o CDS-PP), a Iniciativa Liberal, com 2.012 (2,01%, um mandato), e o PAN, com 2.005 (2%, um mandato).
Com estes resultados, o PS perdeu a maioria absoluta que detinha há 20 anos na região e esta semana o PSD, o CDS e o PPM anunciaram uma "proposta de governação profundamente autonómica", um "governo dos Açores para os Açores" e com "total respeito e compreensão pela pluralidade representativa do povo".
Decorrem ainda negociações entre os partidos de direita para garantir o apoio parlamentar a esta coligação.
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