“Se o PS ganha as eleições ou consegue formar uma maioria, governa. Se o PS perde as eleições e não consegue formar uma maioria, liderará a oposição”, declarou Pedro Nuno Santos no início do debate que o opôs ao co-porta-voz do Livre, Rui Tavares, na RTP1.
O líder socialista salientou que a sua posição sobre esta matéria “foi sempre a mesma” e acrescentou que o “pior serviço” que se faria à democracia era ter “uma governação com o PS e o PSD comprometidos com essa mesma governação, deixando a oposição, ou a liderança da oposição, para o Chega e a extrema-direita”.
“Isso não vai acontecer connosco”, afirmou. Pedro Nuno Santos reiterou que “é praticamente impossível que o PS suporte um Governo do PSD”.
“Até porque a visão que nós temos da sociedade é distinta. O que está em causa nestas eleições é uma visão da sociedade, do estado social, do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que nos distancia profundamente”, referiu.
Pedro Nuno Santos defendeu que “é preciso respeitar as escolhas populares” e, “se o PS não for escolhido para liderar um Governo, o PS respeitará a decisão popular e estará na oposição a liderar a oposição”.
“Isso significa cumprirmos o nosso mandato e a relação de confiança que nós queremos construir com o eleitorado. O PS não existe para suportar governos do PSD. No entanto, nós não temos nenhuma perspetiva de que o PS não vá ganhar as eleições”, ressalvou.
Já interrogado sobre o que é que espera do PSD caso o PS ganhe as eleições mas não tenha maioria, o líder socialista respondeu: “O PS, se ganhar as eleições, procurará uma solução de Governo para governar”.
“Se nós não conseguirmos, não vamos conseguir governar, não vamos governar”, afirmou.
Já relativamente ao anúncio do PS/Açores de que não vai votar a favor do Programa de Governo da coligação PSD/CDS-PP/PPM na região autónoma, Pedro Nuno Santos considerou haver uma situação “de dois pesos e duas medidas” entre “a pressão” que se coloca ao PS quanto a uma eventual viabilização de um Governo minoritário e ao PSD.
Pedro Nuno Santos disse não se lembrar de, em 2020, “quando o PS nos Açores ganhou as eleições, ninguém ter pressionado o PSD/Açores a viabilizar um Governo do PS”, salientando que, nessa altura, o PSD/Açores, “escolheu governar com o apoio do Chega”.
“Teríamos esta situação fantástica, extraordinária para o PSD: o PSD quando perde as eleições, governa com o Chega. O PSD, quando ganha as eleições, está à espera que o PS suporte o Governo”, disse.
Rui Tavares começou por defender que a esquerda deve comunicar “desde já” ao país que “está pronta para negociar um programa de Governo”.
“Daqui até 10 de março temos tempo de evitar os erros que foram cometidos nos Açores (…) isso significa dar às pessoas a confiança de que a esquerda tem a maturidade suficiente para aprender com os seus erros recentes e construir uma maioria de esquerda”, afirmou.
No entanto, ao longo do debate, recebeu em resposta um forte apelo ao voto útil por parte de Pedro Nuno Santos, que assumiu que o PS tem uma “agenda compatível” com a do Livre, mas que só será concretizada em caso de vitória socialista nas legislativas.
“Não haja nenhuma ilusão, nós não estamos em 2024 no momento que estávamos em 2022, nem em 2015, onde se perspetivava uma maioria de esquerda. Neste momento, o risco da direita e da Aliança Democrática (AD) ganhar é real, e só há uma maneira de as ideias do Livre serem implementadas: é com uma vitória do PS”, sublinhou o secretário-geral socialista.
Durante o debate, Rui Tavares deixou algumas críticas à atual governação socialista, desde logo no que se refere à habitação, acusando o executivo de ter “acordado tarde” para a crise no setor e pedindo que, no dia a seguir às eleições, um Governo de esquerda identifique quartéis ou tribunais civis que estão vazios e que podem ser utilizados para residências universitárias.
“Nós não acordámos agora”, respondeu Pedro Nuno Santos, elencando "um conjunto muito completo de medidas" do atual Governo, que "estão a produzir já resultado", como o lançamento de um parque público de habitação para disponibilizar 32 mil habitações até 2026 ou o apoio ao arrendamento a 230 mil famílias.
O líder do PS acusou ainda o Livre de não trazer “nenhuma novidade” ou solução para a crise no setor, salientando que a medida de Rui Tavares relativa aos quartéis surge depois de o Governo “ter mobilizado os quartéis para a sua reutilização”.
“Mas eles continuam vazios. Acho que esse é um problema que, aliás, o PS quanto mais tarde se aperceber que o tem - que é de negação de uma realidade que as pessoas veem todos os dias - pior é para todos nós”, respondeu Rui Tavares.
O porta-voz do Livre salientou ainda que o que se pode conseguir com o seu partido reforçado no parlamento é que “o período que passa entre o PS dizer que uma coisa é impossível e que ela possa efetivamente ser feita seja mais curto”, dando o exemplo do Passe Ferroviário Nacional.
“O Passe Ferroviário Nacional é um bom exemplo da nossa relação”, concordou Pedro Nuno Santos, salientando que mostra precisamente que “só pode ser executada e implementada de uma única maneira: com o PS a ganhar eleições”.
Na educação, os dois líderes convergiram na reposição integral do tempo de serviço dos professores, com Pedro Nuno Santos a salientar que o PS irá propor que seja feita numa legislatura e a acrescentar que o programa eleitoral do partido irá também incluir uma medida para “melhorar os primeiros escalões na carreira docente”, com o valor dependente das negociações com os sindicatos.
Nesta área, Rui Tavares defendeu que é preciso garantir a “harmonia social e laboral” e pensar em como é que escola pública pode oferecer melhores serviços do que a escola privada, apelando a que os professores possam propor o seu próprio tipo de escola, com a sua própria especialização.
Já na saúde, Rui Tavares considerou que o SNS “já paga demasiado aos privados” e deve-se “aproveitar o dinheiro do PRR para fazer digitalização em saúde ter novas valências no SNS”, como a saúde mental ou dentária.
Nesta área, Pedro Nuno Santos voltou a elogiar o atual Governo, considerando “muito frustrante” dizer que o “SNS colapsou quando ele hoje faz mais cirurgias do que em 2015, mais consultas, atende mais urgências”, voltando a alertar para uma eventual vitória da direita nas legislativas.
“Nestas eleições joga-se mesmo o futuro do SNS porque há uma direita, uma AD e o resto dos seus potenciais parceiros, que não acreditam no SNS e querem desviar recursos do SNS para o privado”, advertiu.
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