É o retrato de um agrupamento envelhecido mesmo quando se compara com a média nacional, em que quase 53% dos professores têm 50 ou mais anos de idade e cerca de 1% tem menos de 35 anos, de acordo com um estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE) de 2019.

Nesta que foi a última escola intervencionada pela Parque Escolar, em 2012, desenhada de forma a respeitar e expandir o conjunto de árvores autóctones que habitam no recinto, e modernizada desde as salas de aula à biblioteca, é notório o empenho dos professores para diminuir a discrepância geracional em relação aos alunos.

“É um esforço constante porque nós, professores, quando começámos a dar aulas, o desfasamento entre a minha idade e a deles [alunos] não era nenhum, ou era muito pouco. Aliás, o programa que eu dava era o que eu tinha tido como aluna”, conta Isabel Cruz, 56 anos, professora de Filosofia.

Tanto a necessidade como a dificuldade de entender as diferenças e de criar pontes entre as duas gerações através do diálogo são sublinhadas por quem dá aulas há mais de três décadas, mantendo a motivação desde o início.

“É um desafio diário tentar quer passar-lhes um bocadinho dos valores da minha cultura e dos princípios da cultura que tenho, e que acho que são importantes que eles mantenham, e adquiram, como chegar à deles. Mas eu aí peço a colaboração deles. Não tenho nunca medo de dizer aos alunos: ‘Eu não sei qual é a vossa onda, o que é que vamos ouvir agora, escolham vocês as músicas’, por exemplo”, explica Ana Maria Martins que, aos 59 anos, leciona Inglês.

O mais complicado, muitas vezes, nem é tentar entender o que os alunos poderão gostar, mas o tempo a que eles pertencem e tudo o que isso implica.

“Mentalmente, eu tenho de estar sempre preocupada com isso [desfasamento geracional] porque o tempo é muito psicológico e, para mim, 16 anos foi ontem… E eles têm 16 anos”, diz Isabel Cruz.

O crescimento da utilização das novas tecnologias tem sido, nalguns casos, um obstáculo ao desempenho da profissão e a pandemia de covid-19 só veio complicar ainda mais o trabalho de professores menos dados ao ensino à distância.

Nem o facto de nesta escola haver um computador e projetor em todas as salas de aula parece ter ajudado alguns docentes.

“De um dia para o outro nós confinámos, a uma sexta as aulas terminaram e na segunda começámos a dar aulas à distância. Tive que me adaptar. E eu não sou uma pessoa muito à vontade com as novas tecnologias. Tenho as minhas dificuldades e foi um trabalho, no início, um bocadinho árduo”, confidencia Glória Barbosa, 60 anos, professora de Biologia e Geologia.

Mas este problema não é universal e Ana Maria Martins é exemplo de que se pode ter mais de 55 anos e ser um fiel aliado das novas tecnologias de informação.

“Eu sempre investi muito na formação na área da tecnologia, portanto para mim não foi problema. Já há vários anos que uso várias ferramentas digitais e ‘online’ com os alunos, muito interessantes para eles porque foi um investimento que eu quis fazer na minha carreira e porque sabia o público que tinha na mão. É uma geração totalmente diferente do que quando eu comecei, portanto, ou eu dava à perna ou então ouvia ‘aquela professora, esquece, não nos interessa’”, relata.

Para os professores desta escola secundária renovada, a indisciplina dos alunos tem sido um problema cada vez menor ao longo dos anos, um mérito atribuído aos alunos, sem esquecer a necessidade de estabelecer limites bem definidos por parte dos professores.

“Ao longo destes tempos tenho sentido que os alunos têm modificado. Cheguei a esta escola em 88/89, nem era este edifício, era outro. Já pertenço um pouco à mobília da casa e havia, em termos de desobediência, mesmo miúdos mal comportados, pelo menos comigo havia mais casos, não tanto de desobediência, acho que de má educação. E os nossos alunos tornaram-se cada vez mais pacíficos. Ou se não, sou eu que os aterrorizo”, ri-se Glória Barbosa.

Com uma população a envelhecer, não é estranho que a classe docente acompanhe essa tendência, mas o maior problema é a falta de sangue fresco que diminua o desfasamento geracional.

“O envelhecimento, por si só, não é um problema. O termos mais experiência, mais prontidão na resposta, é até um fator positivo. Temos é de cruzar este fenómeno do envelhecimento com a inexistência de professores mais novos. Não há uma transição adequada entre gerações de professores”, lamenta o diretor do Agrupamento, Jorge Saleiro.

Segundo o Conselho Nacional de Educação, até 2030 mais de metade dos professores do quadro poderá aposentar-se sem que esteja à vista uma geração que os substitua em pleno devido à diminuição da atratividade da profissão nos últimos anos.

O número de alunos inscritos em cursos de mestrado nas áreas de formação para a docência reduziu cerca de 50% entre 2011-2012 e 2017-2018, de acordo com os dados do CNE de 2019.

[Bárbara Barbosa (texto) e André Sá (vídeo), da agência Lusa]