O presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, produtores, trabalhadores de ovinocultura e um rebanho de ovelhas de raça bordaleira estiveram hoje no Parque Eduardo VII, em Lisboa, junto ao Marquês de Pombal, para alertar para a ameaça de extinção do queijo genuíno da Serra da Estrela e também desta raça de ovelhas.
Em declarações aos jornalistas no local, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, que marcou presença no evento, destacou que o processo de certificação do queijo tem de ser cumprido para que não se venda gato por lebre, mas mostrou-se disponível para simplificar o processo (cuja burocracia os produtores se queixam), desde que não ponha em causa a credibilidade do sistema.
“Quando queremos certificar um produto temos de ter a certeza que esse sistema de certificação funciona e isso implica algumas exigências para produtores e para o circuito. Estamos disponíveis para simplificar quanto possível, mas uma coisa é certa: não podemos por em causa em nenhuma circunstância a credibilidade do sistema de certificação”, afirmou.
A delegação de Oliveira do Hospital veio também promover a 26.ª Festa do Queijo Serra da Estrela de Oliveira do Hospital, que decorrerá nesta cidade do distrito de Coimbra no próximo fim-de-semana, com a presença de 300 expositores, entre produtores de queijo e de outros bens locais.
“Viemos hoje aqui numa jornada de promoção, porque estamos habituados a vir às cidades fazer contestação. Hoje não viemos. Viemos fazer o contrário, que é promover o que de melhor tem a nossa região que é o Queijo da Serra”, disse aos jornalistas o autarca José Carlos Alexandrino, ao lado do ministro da Agricultura, Capoulas Santos.
Antes, já Capoulas Santos tinha visitado as ovelhas bordaleiras, considerada uma das melhores raças para produção de leite, e que, segundo o autarca, corre o risco de desaparecer, tendo passado em pouco tempo de 400 mil para 60 mil cabeças em toda a região da Serra da estrela.
Menção obrigatória da origem de produção do leite está "a semanas" de ser aprovada
O ministro concordou com a necessidade de preservar “um dos melhores produtos da agricultura portuguesa, que é o queijo da Serra” e admitiu que “nos últimos anos, o aumento da procura tem vindo a provocar, em algumas situações, adulteração do produto”, com “a utilização de queijo que não é queijo destas ovelhas, produzido naquela região”.
“Para garantir a genuinidade do produto, e depois de seis meses de negociação com a União Europeia, nós conseguimos autorização para produzir um decreto-lei com aplicação em Portugal, onde será obrigatória a menção da origem de produção do leite e de todos os produtos lácteos”, disse Capoulas Santos, salientando que o diploma já está na presidência do Conselho de Ministros, pelo que “dentro de alguns dias, dentro de duas ou três semanas poderá ser aprovado”.
Na prática, com a nova lei - que já tinha sido anunciada pelo ministro na semana passada, em Seia - “todos os produtos lácteos têm de ter a menção de origem de Portugal e estão sujeitos ao sistema de fiscalização adequado”, garantindo “em todos os produtos e designadamente no caso do queijo da serra” que o leite é português.
Por outro lado, devido ao aumento da procura de matéria-prima relacionada com a produção leiteira, deverá registar-se também um aumento do efetivo pecuário nacional “que se tem vindo a perder nos últimos anos”, considerou.
José Carlos Alexandrino destacou que um dos problemas identificados é o de que os produtores preferem não certificar o queijo devido a esta elevada quantia, vendendo mais barato queijos sem selo de origem.
Por isso, nos últimos dias, a Câmara de Oliveira do Hospital aprovou a atribuição de um apoio de 5.000 euros às queijarias do concelho que produzem queijo DOP Serra da Estrela, a quantia anual que um produtor gasta na certificação.
Já em fevereiro, Manuel Marques, presidente da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE) - que abrange 18 municípios dos distritos de Viseu, Coimbra, Guarda e Castelo Branco - havia alertado para a redução do número de ovelhas da Serra da Estrela.
Segundo este filho de pastores de Mangualde, no distrito de Viseu, em 2012 havia cerca de 120 mil ovelhas das duas raças autóctones, “bordaleira” e “churra mondegueira”, de cujo leite é feito o queijo com denominação de origem protegida (DOP). No entanto, contou, o número de efetivos tem vindo a registar uma “quebra substancial”. “Qualquer dia, o leite produzido pelas raças da Serra da Estrela não chega para o queijo que é consumido no país”, alertou.
A “diminuição substancial” dos efetivos de raças autóctones “ameaça a qualidade do queijo” certificado e compromete mesmo a capacidade dos criadores responderem à crescente procura deste produto DOP do Centro de Portugal.
“A maioria dos pastores da região tem idades acima dos 50 a 60 anos. Hoje, não há incentivos a esta parte da agricultura, que é a mais rentável, mas também a mais difícil”, sublinhou o presidente da ANCOSE.
Trata-se de um setor que “cria trabalho e riqueza e é também importante na prevenção dos incêndios florestais”, mas entre os produtores de queijo da Serra da Estrela “não há domingos, não há feriados, nem festas”, enfatizou.
O museu do queijo da Serra
Também este mês de fevereiro o presidente da Câmara Municipal de Seia, Carlos Filipe Camelo, anunciou que ia recorrer a fundos europeus para criar, no concelho, um Centro de Investigação do Queijo Serra da Estrela.
Segundo o autarca, "temos as bases lançadas para a formação de um Centro de Investigação do Queijo, cujo objetivo é o de criar um local que consiga dar resposta a toda a problemática associada à fileira do queijo, desde a produção à sua comercialização".
Carlos Filipe Camelo explicou que o futuro centro será "um local onde se faça investigação e, ao mesmo tempo, se trabalhe o 'marketing' do produto, se criem postos de trabalho qualificados e responda a uma problemática e a um vazio hoje existente". "Já conseguimos a disponibilidade e envolvência da Universidade de Coimbra para a construção e existência de uma parceria forte", disse.
O autarca referiu que o município vai "partir em busca" dos instrumentos financeiros que "permitam concretizar esse importante objetivo, no quadro dos recursos europeus" colocados à disposição, no âmbito do Portugal 2020.
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