Na estreia de João Oliveira como substituto do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, nos debates no âmbito das eleições legislativas, Rui Rio desde cedo assinalou que há “um mar de divergências” entre o PCP e o PSD.
Durante 25 minutos, Rio e Oliveira percorreram esse “mar” e entre os embates quanto ao aumento dos salários e pensões, mas também nos impostos que deverão baixar, encontraram-se para culpabilizar o primeiro-ministro, António Costa, e o PS pela rejeição da proposta de Orçamento do Estado para 2022 que desencadeou as eleições de 30 de janeiro.
“Hoje já ninguém tem dúvidas de que o Governo, o PS, estava convencido de que se fôssemos para eleições teria uma maioria absoluta e fez tudo para que não houvesse Orçamento do Estado aprovado”, sustentou o dirigente comunista, uma tese recorrente do PCP quando é questionado sobre o 'chumbo' da proposta orçamental.
O PCP faz a discussão, prosseguiu, “na medida em que essa discussão é possível” e o PS “sabia que o desfecho" seria o chumbo do orçamento” quando rejeitou as propostas apresentadas pelos comunistas.
“Subscrevo aquilo que o PCP diz”, assinalou Rio, apesar de estar “em total desacordo com o que o PCP pediu ao Governo”.
“O Governo e António Costa, quando se meteram com o PCP, sabiam perfeitamente qual era a lógica de funcionamento do PCP, que é um partido coerente. Era expectável que o PCP fosse pedir o que pediu, fosse negociar o que negociou. [O PS] colocou-se na mão do Partido Comunista, agora não pode responsabilizar o PCP. A culpa é integralmente do Governo”, concretizou.
No entanto, se Rui Rio estivesse na posição de primeiro-ministro também “não dava aquilo que o PCP pediu”.
Na ótica do presidente social-democrata, o PCP defende “o orgulhosamente só”, apesar de não ser o de Salazar, uma vez que defende um “modelo de coletivização que não leva ao enriquecimento, leva ao empobrecimento”.
Rio considerou que “o problema dos salários é fundamental” e definiu-o como uma das prioridades, caso o PSD vença as eleições, sustentando que “melhores empregos são melhores salários”.
Sobre o aumento das pensões, o social-democrata admitiu olhar para o assunto se vencer as eleições, mas “se a economia o permitir”, enaltecendo a necessidade de haver “finanças públicas equilibradas”.
“Quero dar, mas só dou quando posso dar”, vincou.
Na réplica, João Oliveira disse que os eleitores tinham nas palavras de Rio a razão pela qual não é alternativa aos seis anos de Governo socialista.
“Se as pessoas estão descontentes com o PS, que não lhes resolveu os problemas, e estavam a achar que iam encontrar no PSD a alternativa, têm aqui a resposta mais clara possível. Aumento dos salários, reforço do Serviço Nacional de Saúde, aumento das pensões, têm a resposta de que Rio disse que faria o mesmo que António Costa”, elaborou.
O presidente do PSD fez questão de separar bem as águas entre os dois partidos e, apesar de parecer que ambos querem o crescimento económico, o PCP quer “nacionalizar outra vez os setores todos”.
“Aquilo que o PCP coloca no seu programa é a mesma coisa que ir ler, com certeza absoluta, aquilo que o PCP defendia em 1974, 1975, 1976 ou, se calhar, há 100 anos, quando foi criado”, criticou.
O líder da bancada comunista replicou que Rui Rio “como caricaturista não tem um traço muito fino” por dizer que o país ficaria na “pobreza” se fosse governado pelo PCP.
Sobre a nacionalização de todos os setores estratégicos, Oliveira assegurou que os comunistas estão “muito confortáveis com aquilo que a Constituição prevê de uma economia mista”.
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