Júlia Seixas é a presidente em Portugal da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN) das Nações Unidas, entidade responsável pela conferência internacional “Paving the Way to The Pact of the Future", que decorre em Lisboa e durante a qual foi hoje lançado o Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2024.

A conferência junta especialistas nacionais e internacionais que durante dois dias vão debater propostas para a Cimeira do Futuro, uma iniciativa da ONU marcada para setembro próximo.

No Relatório de Desenvolvimento Sustentável, Portugal surge em 16.º lugar, entre 167 países, no ‘ranking’ de cumprimento dos ODS das Nações Unidas. Mas o documento também diz que apenas 16% das metas dos ODS estão no bom caminho para um cumprimento global até 2030.

Num comentário aos jornalistas sobre o relatório, Júlia Seixas considerou que Portugal tem evoluído “globalmente no bom sentido”, e destacou que pela primeira vez Portugal aparece como tendo já atingido um dos ODS, o relacionado com a pobreza.

Em outros indicadores, reconheceu, há muito a fazer, como no consumo e produção sustentável, devido à baixa taxa de reciclagem e reutilização de resíduos, ou como na ação climática, ao descurar-se o fator emissões de gases com efeito de estufa proveniente dos produtos importados, ou ainda na vida marinha, sobretudo pelo excesso de captura de algumas espécies.

Ainda que o desempenho de Portugal seja globalmente positivo, e da Europa em geral, com 27 países nos primeiros 30 lugares, Júlia Seixas acrescentou: “Em termos globais não estamos nada bem” e “só estaremos bem quando todos os países estiverem alinhados com o desenvolvimento sustentável”.

Uma agenda para o desenvolvimento sustentável, disse, tem de conter uma política ativa do sistema financeiro, em que os bancos emprestem dinheiro a investimentos a favor do desenvolvimento sustentável e o recusem a outros projetos não sustentáveis.

E além de o desenvolvimento sustentável ter de estar na agenda política, é importante que essa agenda política pense a 10 ou 15 anos e não, como quase sempre acontece, a curto prazo, defendeu.

Júlia Seixas disse não haver dúvidas de que os ODS não serão atingidos em 2030, como tinha sido programado em 2015, remetendo para a Cimeira do Futuro a necessidade de se olhar para instrumentos para mais rapidamente os pôr em prática.

Além “de uma nova arquitetura do sistema financeiro internacional”, segundo Júlia Seixas está em causa uma nova forma de funcionamento da ONU, que “não tem sido muito efetiva”, porque, por exemplo, não estão a ser dados “passos suficientes” no financiamento dos países mais vulneráveis.

A conferencia que decorre em Lisboa, acrescentou, pretende contribuir para a Cimeira do Futuro debatendo aspetos como o facto de se medir o desenvolvimento dos países apenas através do PIB, quando na verdade são precisas outras medidas.

Outros temas em debate, disse, são a necessidade de envolver os jovens nas decisões políticas, criando por exemplo quotas para jovens nas listas para eleições legislativas em lugares elegíveis, e a educação alinhada com o desenvolvimento sustentável.

A SDSN funciona desde 2012 sob a égide do secretário-geral da ONU e mobiliza a experiência científica e tecnológica global para promover soluções práticas para o desenvolvimento sustentável, incluindo a implementação dos ODS e o Acordo de Paris sobre o Clima.