Em entrevista ao jornal Le Parisien, o chefe de Estado de França salientou ainda que pretende ser candidato à reeleição dentro de três meses, apesar de não estar “esclarecido sobre o assunto” devido à situação pandémica vivida no país, que foi novamente o principal foco das suas declarações.
“Quero realmente irritar os não vacinados. E assim vamos continuar a fazê-lo até ao fim. É essa a estratégia”, frisou Macron, numa altura em que as medidas do Governo contra a covid-19 deram origem a um debate acesso na Assembleia Nacional.
O Governo anunciou recentemente a transformação do passe sanitário em passe vacinal, limitando assim a vida das pessoas não vacinadas contra a covid-19.
Em resposta a uma pergunta de um leitor do jornal, que sublinhou que os não vacinados “representam 85% dos internamentos” o que leva ao adiamento de cirurgias, Emmanuel Macron salientou que aquela observação “é o melhor argumento” para a estratégia do Governo.
“Numa democracia, o pior inimigo são as mentiras e a estupidez. Quase todas as pessoas, mais de 90%, aderiram à vacinação e é uma minoria muito pequena que é resistente”, acrescentou.
Ainda sobre a estratégia contra os não vacinados, Macron referiu que, sem os poder prender ou vacinar à força, a partir de 15 de janeiro estes deixarão de poder ir a restaurantes, cafés, teatros ou cinemas.
As declarações do chefe de Estado geraram críticas entre os partidos, com o candidato à presidência Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, a classifica-las como “terríveis”.
“A OMS (Organização Mundial da Saúde) fala em convencer em vez de coagir e ele?”, frisou através da rede social Twitter.
Já a candidata presidencial Marine Le Pen, do partido de extrema-direita União Nacional, salientou que “um presidente não deve falar assim”.
“O garante da unidade da nação persiste em dividi-la e assume querer fazer dos não vacinados cidadãos de segunda. Emmanuel Macron é indigno da sua função", apontou.
A cerca de três meses das presidenciais francesas, o atual Presidente abordou com cautela a sua recandidatura: “Quero. Assim que existirem condições sanitárias que permitam que esclareça o assunto e este esteja esclarecido para mim mesmo, direi como será”, garantiu.
Palavras de Macron sobre os não vacinados geram polémica em França
Estas palavras de Macron foram conhecidas numa altura em que a transformação do atual passe sanitário em passe vacinal ainda estava a ser discutida na Assembleia Nacional, o que levou que as forças da oposição no parlamento francês pedissem a suspensão da sessão.
Várias trocas acesas de argumentos surgiram entre os deputados, com a oposição a reclamar a presença no hemiciclo do primeiro-ministro francês, Jean Castex.
Os trabalhos parlamentares seriam suspensos já durante a madrugada.
"Acho que podemos concordar que não estão reunidas as condições de trabalho sereno para continuar esta sessão", disse Marc Le Fur, deputado da maioria que estava a presidir à sessão.
No hemiciclo, Nicolas Dupont-Aignan, deputado da extrema-direita e candidato à presidência, considerou que "as palavras do Presidente desonram" a sua função e a Assembleia.
Já o presidente da força política Os Republicanos (direita), Christian Jacob, disse não querer aprovar um diploma que serve para "chatear" os franceses.
Já esta manhã, Valérie Pécresse, candidata presidencial dos Republicanos, afirmou que é preciso "acabar com este mandato de desprezo".
Outra frase da entrevista de Macron que está a chocar a opinião pública francesa prende-se com o facto de o Presidente ter dito que "um irresponsável não é um cidadão", uma afirmação que chocou muitos franceses, nomeadamente os cerca de cinco milhões que escolheram não se vacinar contra a doença covid-19.
Na terça-feira, o ministro da Saúde francês, Olivier Véran, anunciou que o país tinha registado quase 300.000 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, num contexto ainda marcado pela vaga associada à nova variante Ómicron.
[Notícia atualizada às 14:32, *com Lusa]
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