De acordo com o Público, a transportadora aérea brasileira, Azul Linhas Aéreas, detida por David Neeleman (sócio do empresário português, Humberto Pedrosa, no consórcio Atlantic Gateway, que comprou 61% do capital da TAP, em novembro de 2015) foi conselheira da TAP no seu lançamento no mercado norte-americano, mais precisamente, nas novas rotas para Boston, Nova Iorque, Chicago e São Francisco.

A conclusão é da auditoria da Inspecção-Geral de Finanças (IGF), realizada às contas da TAP entre 2005 e 2022, que indica que entre os serviços de consultoria contratualizados pela transportadora, estão os prestados pela Azul. Por esses serviços, relativos aos anos de 2016, 2017 e 2018, a TAP pagou 828 mil dólares (cerca de 751 mil euros).

“Os serviços contratados respeitam ao apoio e aconselhamento no processo de expansão da TAP para os Estados Unidos da América, designadamente no lançamento de novas rotas, coordenação, implementação, planeamento e desenvolvimento de escalas de tripulantes e definição de estratégias para novas tecnologias de bordo, entre outras atividades”, refere o relatório.

Esta consultoria é uma parte dos 28,230 milhões de euros registados em transações entre a TAP, SA e as empresas de David Neeleman, que são, sobretudo, relativas “a rendas e reservas de manutenção, manutenção e engenharia e aos programas de milhas, relacionadas com contratos de leasing referentes a aeronaves para reforço da frota e peças sobressalentes de reserva”, cita o Público.

Por exemplo, em 2018, a TAP pagou 9,9 milhões à Aigle Azur, companhia francesa de Neeleman, pelo aluguer de aeronaves. Já em 2019, voltou a repetir o negócio e pagou 4,3 milhões de euros.

Mas esta não foi a única empresa. A auditoria explica que o grupo Barraqueiro recebeu pagamentos de 1,091 milhões entre 2015 e Junho de 2023, “resultantes de serviços pontuais prestados no âmbito da operação da TAP, SA, como transporte de passageiros entre aeroportos ou de equipamentos de grande dimensão”.

Por sua vez, o relatório, citado pela publicação, salienta que “entre 2005 e 2022, a TAP, SGPS e a TAP, SA contrataram serviços de consultoria no montante total de 400,6 milhões de euros, envolvendo cerca de 1308 entidades, sendo que, nos contratos celebrados com a Seabury Aviation Consulting, LLC e a KPMG & Associados – Sociedade de Revisores Oficiais de Contas, SA, no valor total de 11,7 milhões, não foi possível identificar claramente o beneficiário desses serviços”.

Em alguns destes processos “há dúvidas quanto à entidade devedora, por não ter sido possível confirmar, através das evidências recolhidas, que as mesmas estivessem efectivamente associadas a serviços prestados à TAP, SA”.

Com isto, o Público explica que a TAP poderá ter pago serviços que serviram os propósitos de outras empresas e não a sua operação de transporte aéreo: “As situações sinalizadas [Seabury e KPMG], embora suportadas por contratos, apontam para serviços de suporte ao processo de capitalização da TAP pela Atlantic Gateway”.

No geral, em consultoria nas "áreas das tecnologias de informação (IT), operacional, suporte jurídico, fiscal e estratégico", a TAP gastou, em seis anos (entre 2016 e 2022), cerca de metade do total pago em 17 anos (379 milhões de euros). Durante estes anos destacaram-se os contratos estabelecidos com a Boston Consulting Group (BCG), no valor de 12,9 milhões de euros, e a Atlantic Gateway, no valor de 4,6 milhões de euros.

“Na sua maioria, os processos [de contratação dos consultores] encontram-se sustentados por propostas e respectivos contratos, não se tendo detetado discrepâncias entre os valores faturados e os pagamentos efetuados”, ainda que nem sempre “tenha sido possível confirmar a correspondência entre o valor contratado e o valor faturado, uma vez que, em algumas situações, o preço varia em função dos serviços prestados”, diz o relatório a que se refere o Público.