“Considero que acabámos este momento de luta esperando não termos que decidir novos momentos de luta, ou seja, estamos junto ao Ministério da Saúde, que é quem tem a responsabilidade de minimizar os problemas com que os enfermeiros estão confrontados, nomeadamente a questão do pagamento dos retroativos desde 2018, a questão das injustiças relativas e a paridade da carreira de enfermagem”, disse à Lusa Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que convocou a greve e a concentração de hoje.
Munidos de faixas e bandeiras, dezenas de enfermeiros protestaram hoje junto ao Ministério da Saúde, exigindo a reparação do que consideram ser injustiças e discriminações, até dentro da própria carreira.
“Iremos levar este protesto onde tivermos que levar para atingir objetivos. Não podemos aceitar é que os enfermeiros continuem a ser discriminados”, disse Guadalupe Simões, lembrando que as negociações para a contabilização de pontos de avaliação para os enfermeiros com contrato individual de trabalho levou vários, anos por exemplo.
“Se tivermos que continuar a lutar mais vários anos para resolver estas injustiças continuaremos a lutar”, disse a vice-coordenadora do SEP, que acrescentou que os dados relativos ao dia de greve de hoje ainda não estão fechados, mas que na terça-feira a paralisação se fixou nos 63% de adesão e em 70% no turno da noite, remetendo para a tarde de hoje um balanço final.
Carlos Sousa, enfermeiro do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, disse estar à 20 anos — os mesmos que têm de carreira — a dar os seus “préstimos à mesma instituição com o máximo de brio e profissionalismo”, mas sempre na mesma posição de carreira e sem qualquer valorização remuneratória.
“Isso já me trouxe várias vezes do Porto a Lisboa para reclamar e trar-me-á outras tantas se for necessário”, disse à Lusa.
Entre as suas principais reivindicações neste momento está precisamente o pagamento com retroativos a 2018 do descongelamento da carreira acordado com o Governo, que apenas quer pagar retroativos a janeiro deste ano, deixando quatro anos fora do acordo.
Carlos Sousa queixa-se também dos efeitos do congelamento em termos comparativos a colegas que entram agora ou entraram recentemente na carreira, que acabam por ter um vencimento semelhante ao seu, apesar dos 20 anos de experiência profissional que os separam.
“Queremos mesas negociais sérias para de uma vez por todas anular todas essas discriminações no seio da própria profissão. […] Não queremos ser diferentes, queremos ser iguais”, disse o enfermeiro à Lusa, referindo a propósito da igualdade, que não encontra justificação para que os técnicos superiores de saúde tenham visto a sua carreira valorizada e os enfermeiros não.
O presidente do SEP, José Carlos Martins, entregou no Ministério da Saúde um documento a reivindicar a abertura de negociações, uma exigência para a qual ainda não têm resposta.
A saída, deixou em aberto uma decisão para dar continuidade às formas de luta.
O SEP espera que o Ministério da Saúde agende uma reunião para iniciar negociações destinadas a repor a paridade entre a carreira de enfermagem e a de técnico superior da administração pública, alegando que se verifica uma discriminação em todos os níveis remuneratórios.
Além disso, o sindicato reivindica o pagamento da reposição dos pontos da carreira com retroativos a janeiro de 2018 e não a janeiro deste ano, como decidiu o Governo recentemente.
No início do mês, o Ministério da Saúde anunciou que, na sequência de negociações com os diversos sindicatos, cerca de 20 mil enfermeiros seriam abrangidos pelo descongelamento da progressão salarial, com o pagamento dos retroativos a janeiro de 2022.
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