“Após uma diminuição da probabilidade de não aquisição de todos os medicamentos necessários entre 2017 e 2021, nos últimos anos registou-se um agravamento deste indicador de acesso a cuidados de saúde”, alerta o relatório sobre o envelhecimento elaborado pelos investigadores Pedro Pita Barros e Carolina Santos.
Segundo este estudo, realizado no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação La Caixa, o BPI e a Nova SBE, nos idosos, a probabilidade de não aquisição de todos os medicamentos necessários era de 3,93% em 2021, tendo passado para 9,01% em 2023, ou seja, mais do que duplicou nesse período.
“Tal sugere que, nos anos de 2022 e 2023, a inflação geral poderá ter agudizado as dificuldades financeiras da população, no que toca à sua capacidade de adquirir os medicamentos necessários ao tratamento de um episódio de doença”, uma situação que é mais acentuada nos escalões etários mais elevados, refere o documento.
Para pessoas com pelo menos 65 anos, a probabilidade de não aquisição de todos os medicamentos necessários é de 2,1% para inquiridos dos escalões socioeconómicos A e B, mas sobe para os 26,67% nos idosos do escalão socioeconómico mais desfavorecido (escalão E).
Ou seja, comparando estes dois grupos, os idosos do escalão socioeconómico mais desfavorecido “têm uma probabilidade cerca de treze vezes superior de não comprar toda a medicação que deviam”, salienta ainda o relatório.
O documento refere ainda que as barreiras financeiras no acesso aos cuidados de saúde necessários podem influenciar, não apenas a decisão de aquisição de medicamentos, mas também a própria decisão de o cidadão ir a uma urgência ou consulta.
Em 2020 a probabilidade de um idoso ter médico de família atribuído era 94,86%, ao passo que em 2023 era de apenas 81,13%
Aponta ainda o caso da medicina geral e familiar, área em que todos os grupos etários “estão a ser negativamente afetados pela falta de médicos de família” em Portugal.
“Em 2020 a probabilidade de um idoso ter médico de família atribuído era 94,86%, ao passo que em 2023 era de apenas 81,13%, o que corresponde a uma redução de 13,73 pontos percentuais”, alertam os investigadores.
Segundo o estudo, não é apenas a idade que determina as necessidades de saúde não satisfeitas, mas também as características socioeconómicas dos indivíduos.
No entanto, “uma vez que nos idosos a situação de escassez financeira é mais expressiva do que nos outros dois grupos etários analisados, as dificuldades de acesso a cuidados de saúde tendem a ser superiores entre os idosos”, refere o documento.
Em 2023, 14,20% dos idosos inquiridos reportaram não adquirir todos os medicamentos necessários ao tratamento do episódio de doença, percentagem que foi de 6,73% em adultos com idades entre os 15 e os 49 anos e 9,29% em adultos com idades entre os 50 e os 64 anos.
“A maior incidência de necessidades não satisfeitas de aquisição de medicamentos pelos idosos deve-se, em larga medida, à maior privação económica deste grupo etário”, avança o documento.
Perante isso, os investigadores defendem que mitigar as necessidades de saúde não satisfeitas “exige que se atue no sentido de reduzir a pobreza entre os idosos e que se considerem medidas de apoio à aquisição de medicamentos mais abrangentes para este grupo populacional”.
Em 2001, a população com 60 e mais anos representava 21,67% da população residente em Portugal, mas em 2021 esse grupo etário correspondia já a 30,24%.
Em 2070, prevê-se que a população com pelo menos 60 anos totalize 39,21% da população residente em Portugal, de acordo com dados do Eurostat.
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