Desde 30 de novembro está a decorrer no Dubai, Emirados Árabes Unidos, a 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28) e, a poucos dias do encerramento, o programa temático de hoje é dedicado à natureza, solos e oceano.
O facto de haver um dia dedicado ao tema não significa, no entanto, que esteja a ter o merecido destaque na cimeira do clima e Peter Thomson entende que, à semelhança de tantas anteriores, a COP28 não coloca o oceano no centro da discussão.
“Não estou satisfeito. Nunca estou satisfeito, porque somos espécies terrestres e não vemos que a nossa vida depende de ter um oceano saudável”, sublinhou o enviado especial para os oceanos do secretário-geral das Nações Unidas, em entrevista à Lusa e à RTP na COP28.
O oceano é responsável pela absorção de quase um quarto do dióxido de carbono emitido e 90% do calor em excesso, causado pela emissão de gases de efeito de estufa. Por isso, explica o responsável, “sem um oceano saudável não podemos ter um planeta saudável”.
O problema é que o oceano tem também sofrido o impacto das alterações climáticas e a sua saúde está em declínio, mas nem assim é considerado na discussão sobre o combate às alterações climáticas.
Ausente do Acordo de Paris, que em 2015 impôs como objetivos a redução das emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera e a limitação do aumento das temperaturas mundiais além de 2ºC acima dos valores da época pré-industrial, e de preferência que não aumentem além de 1,5ºC, Peter Thomson diz que o tema está a ser igualmente esquecido no balanço global.
Esse balanço está a ser feito pela primeira vez na cimeira do Dubai, no âmbito do ‘Global Stocktake’, o principal mecanismo através do qual são avaliados os progressos efetuados no âmbito do Acordo de Paris.
“O ‘Global Stocktake’ não menciona o oceano o suficiente”, lamentou o enviado especial, que gostaria que “muitos mais Estados-membros” incluíssem o papel do oceano nas suas contribuições determinadas a nível nacional, por exemplo, através da aposta no carbono azul, isto é, o carbono sequestrado, armazenado e liberado pelos ecossistemas costeiros e marinhos.
A ciência, acrescenta, tem também um papel fundamental e, recordando que uma parte muito significativa do oceano continua por conhecer, Peter Thomson defende “uma viragem enorme em direção ao financiamento da ciência”.
“Outra questão que me chateia muito é o ritmo lento da eliminação dos combustíveis fósseis. Há demasiado arrastar dos calcanhares por parte dos países, mas nós sabemos quais são as alternativas. Porque é que não estamos a investir nelas?”, questionou.
Apesar da insatisfação, que já lhe valeu a alcunha de “angry Peter” (Peter zangado) entre os colegas, o responsável diz que, ainda assim, mantém algum otimismo.
“É preciso ter esperança e confiança de que conseguimos fazê-lo”, sublinhou, referindo-se à descarbonização e acrescentando que o fim dos combustíveis fósseis e a transição energética “é tão fazível”.
“A indústria dos combustíveis fósseis está a reter-nos e tem de passar de financiar apenas 1% das contribuições com vista à transição energética para mais de 50%. (…) São a industria mais poderosa do planeta e claro que têm influência sobre alguns governos”, afirmou.
Peter Thomson sublinhou ainda o papel que Portugal tem assumido na promoção da preservação da biodiversidade, por exemplo através da a criação do Parque Natural Marinho do Recife da Pedra do Valado, no Algarve, considerando que o país “está a marcar o passo na Europa”.
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