Num texto publicado no diário britânico The Guardian, na sequência do incêndio que destruiu parte do Museu Nacional e do seu acervo, no Rio de Janeiro, Paulo Coelho escreveu que os brasileiros culpam o governo por negligenciar a história, mas “o povo brasileiro também a negligencia”.
“O Brasil é um país fantástico, um país lindo, mas afligido pela falta de instrução. As pessoas pobres no Brasil não vão à escola, quanto mais aos museus. As pessoas ricas vão a museus, mas em Londres, Nova Iorque ou Paris, e não no Rio ou em São Paulo”, pode ler-se no texto intitulado “O país está em lágrimas”.
Para o escritor nascido no Rio de Janeiro há 71 anos e que é o mais vendido da língua portuguesa, em vez de se estar agora a celebrar os 200 anos do Museu Nacional, o Brasil “está em lágrimas porque ardeu”.
“Se este marco histórico simbolizava o começo da nação, o fogo simboliza um país onde a falta de cultura e educação é o maior problema”, realça o autor de “O Alquimista”.
Paulo Coelho recorda que são milhões os brasileiros que viajam pelo mundo, a frequentar “museus fantásticos como a Tate, em Londres, o Metropolitano, em Nova Iorque, e o Louvre, em Paris, com mais de oito milhões de visitantes no ano passado”.
“Ainda assim, não é exagero dizer que o Rio, com as suas vistas panorâmicas de montanhas, florestas e o mar, é a cidade mais bonita do mundo. Então, porque é que o Museu Nacional, o mais fantástico museu da América do Sul, com os seus dois milhões de artefactos, a coleção egípcia e os mais antigos fósseis da história do Brasil, recebia apenas 154 mil visitantes por ano?”, questiona Paulo Coelho.
O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi fundado por João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do Brasil.
Entre as peças do acervo estavam a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Pedro I, e o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, batizado de "Luzia", com cerca de 11.000 anos.
Entre os milhões de peças que retratavam os 200 anos de história brasileira estavam igualmente um diário da imperatriz Leopoldina e um trono do Reino de Daomé, dado em 1811 ao príncipe regente João VI.
A história do museu remonta aos tempos da fundação do Museu Real por João VI, em 1818, cujo principal objetivo era propagar o conhecimento e o estudo das ciências naturais em terras brasileiras. Hoje, era reconhecido como um dos principais centros de pesquisa em história natural e antropológica, na América Latina.
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