“O estado da nação, em Portugal, com o grau de estatismo que temos tido, confunde-se com o estado do Estado (…) e, quando se olha para o estado do Estado, eu acho que tem de se confessar que ele é preocupante”, afirmou João Cotrim de Figueiredo em declarações à agência Lusa, no âmbito do debate sobre o Estado da Nação, agendado para esta quarta-feira na Assembleia da República.
Para Cotrim de Figueiredo, “há demasiado tempo” que o Governo “não antecipa os problemas, não planeia a forma de resolver os problemas e acaba por não resolver os problemas”: “Um Governo que não antecipa, não planeia a não resolve, é um Governo que põe o Estado numa situação preocupante”, sustentou.
O líder da Iniciativa Liberal sublinhou que, nos serviços públicos – e, particularmente, em áreas como a saúde, a educação, os transportes ou a resposta aos incêndios –, se assiste “a uma degradação exatamente porque não se antecipa, não se planeia, não se resolve”.
Cotrim de Figueiredo deixou ainda críticas à execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), alertando para situações como a “do programa de recapitalização estratégica” – “com mais de metade dos fundos a irem para uma única empresa com relações à comunicação social” – ou das Agendas Mobilizadoras, compostas por “centenas de milhões de euros”, mas “cuja verdadeira utilidade estratégica para o país não se conhece bem”.
“Portanto, temos este Governo que (…) está a criar um Estado que é, basicamente, o oposto do Estado que a Iniciativa Liberal gostaria de ver: nós defendemos um Estado mais pequeno, mas muito mais forte, e o PS parece preferir um Estado gordo e incapaz de resolver os problemas”, sublinhou.
Considerando assim que a situação atual é típica “de um PS que há muito tempo desistiu de fazer reformas e prefere fazer remendos”, Cotrim de Figueiredo afirmou que, no debate de quarta-feira, o seu partido irá “tornar claro que Portugal não pode viver mais tempo sem reformas de fundo”.
“Eu sei que o senhor primeiro-ministro acha que a expressão ‘reformas estruturais’ causa arrepios. A nós não: sem reforma estruturais, sem reformas de fundo, estaremos todos os anos a fazer estes remendos nas várias situações importantes. (…) Não podemos continuar a viver assim”, referiu.
Fazendo um balanço dos primeiros 100 dias de Governo – que se assinalaram em 08 de julho – Cotrim de Figueiredo realçou que o seu partido não tem “sentido de todo” a “proclamada vontade de dialogar” do Partido Socialista.
“Acho que, passado 100 dias, já se pode concluir isso. Enquanto parlamentar, inclusivamente, posso confirmar que a atitude do PS perante a nomeação de comissões, ou a instituição de subcomissões, ou a convocação de comissões de inquérito, ou audições de ministros, tem sido bastante mais obstaculizante do que foi na legislatura passada”, indicou.
A poucos dias do encerramento do parlamento para férias, João Cotrim de Figueiredo disse que a prioridade da Iniciativa Liberal quando forem retomados os trabalhos em setembro é continuar a “mostrar que há alternativas para solução dos problemas”.
“Vamos pegar nestes problemas (…) de degradação dos serviços públicos e de capacidade de aproveitar convenientemente aquilo que pode ser a última grande oportunidade de Portugal de se reformar estruturalmente – que são os fundos europeus do PRR – (…) e apresentar alternativas à forma como se podem fazer as coisas”, indicou.
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