Os 42 metros de altura do "mamarracho" ou "aborto urbanístico", como o apelidou o antigo presidente da Câmara, Defensor Moura, que iniciou o projeto de requalificação do centro histórico da cidade, começaram pela manhã a ser destruídos das traseiras para a frente, virada para o rio Lima.

A demolição “pesada”, decidida aquando da aprovação do plano pormenor do Centro Histórico de Viana do Castelo, em 2000, ao abrigo do programa Polis, foi testada, na quinta-feira, a meio da tarde. Hoje começou a sério, para pôr fim ao “romance” do prédio Coutinho, como lhe chamou o ministro do Ambiente, Matos Fernandes.

A paragem de cerca de um mês permitiu afinar os mecanismos de segurança da obra, e deixar recuperar da covid-19 o manobrador especialista em operar o braço de 40 metros da máquina giratória.

“A estratégia de ataque está a decorrer a bom ritmo. Estamos a demolir de trás para a frente, entrando cada vez mais no edifício”, explicou hoje à agência Lusa, o administrador e um dos proprietários da Baltor, a empresa responsável pela desconstrução do edifício, Cláudio Costa.

Apesar do atraso no início da desconstrução dos 105 apartamentos existentes nos 13 andares das duas torres, nascente e poente, prevista para janeiro, Cláudio Costa acredita que “ainda é possível” cumprir o prazo previsto para a conclusão da empreitada, o próximo mês de março.

“Achamos que ainda é possível cumprir o prazo. É um desafio. No pior dos cenários, temos um atraso de um mês”, referiu.

O empresário admitiu que, nesta fase, a obra está “muito dependente” da máquina giratória que, no primeiro dia de demolição “pura e dura”, está a “ter um bom rendimento”.

“Hoje esperamos conseguir desfazer toda uma linha da fachada posterior para entrar mais no edifício”, afiançou.

Acelerar não é um verbo que o empresário goste de conjugar por ser inimigo da perfeição que quer ver assegurada ao limite, numa obra “muito exigente e desafiante”.

“A grande vantagem deste desafio é o reduzido número de pessoas afetas à esta fase. O edifício está a ser demolido sem ninguém no seu interior. Nesta altura estão envolvidos cerca de 10 trabalhadores, entre operários, direção de obra e fiscalização”, apontou, realçando que a segurança “é a primeira preocupação”, da empresa e da Vianapolis, quer dentro, como fora dos estaleiros.

“Não houve acidentes de trabalho a registar”, sublinhou o administrador que acrescentou que quando metade do edifício já estiver demolida, poderão começar a operar, a partir do solo, mais máquinas “noutras frentes” de trabalho, imprimindo “mais ritmo” à empreitada.

Construído no início da década de 70 do século passado, o complexo do prédio Coutinho, nome do empreiteiro que o construiu e com que foi batizado localmente, já foi diminuído do bloco de apartamentos, mais pequeno, situado nas traseiras.

Sobram os detritos que agora servem de plataforma para elevar o braço de 40 metros da máquina giratória ao topo do edifício Jardim.

Depois de mais de duas décadas de avanços e recuos motivados pela batalha judicial levada a cabo pelos moradores processos judiciais, por uma ação de despejo frustrada pela resistência dos últimos proprietários, a desconstrução entrou em velocidade cruzeiro e tem sido registada por muitos, em fotografias e vídeos, profusamente partilhadas nas redes sociais, onde o destino traçado para o Coutinho continua a não ser consensual.

A partir de março o imponente edifício deixará de fazer sombra à cidade que decidiu retirá-lo do centro histórico e construir, no seu lugar, o novo mercado municipal.

A Baltor, empresa de Viana do Castelo, não esconde o interesse na nova obra, até para “reutilizar os inertes resultantes da trituração do Coutinho”.

“Vamos concorrer [ao concurso público]. Para nós e um projeto estratégico. Queremos muito fazer o mercado. Queremos ter essa mais-valia ambiental e económica. É um projeto que nos interessa muito por somos uma empresa de Viana do Castelo, com sede a poucos metros do prédio Coutinho”, disse Cláudio Costa.

* Por Andrea Cruz, da agência Lusa

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