Fonte policial explicou à Lusa que os jovens foram retidos porque a manifestação, que decorreu em vários pontos de Díli, não estava autorizada pelas autoridades, desconhecendo-se se os jovens serão ou não detidos.
O grupo concentrou-se em vários pontos da cidade incluindo em frente ao porto de Díli, com bandeiras do movimento de libertação da Papua Ocidental e fotos de rostos e corpos de independentistas da região alegadamente vítimas de abuso pelas autoridades indonésias.
“O povo de Timor-Leste está em solidariedade com o povo da Papua Ocidental, a lutar contra a injustiça. Viva Papua, viva Timor-Leste, abaixo Indonésia. Liberdade para a Papua”, gritou um dos jovens, Denilson Marques da Silva, 20 anos, de megafone na mão.
À Lusa, o jovem explicou que se tratou de um protesto espontâneo pacifico na sequência das notícias das últimas semanas de violentos confrontos que se seguiram à detenção de estudantes universitários papuas independentistas.
“Somos universitários, somos de todas as universidades e outros que se juntaram, em solidariedade com o povo da Papua que está a enfrentar muitos problemas. Não estamos satisfeitos com esta ação que a Indonésia está a fazer na Papua e por isso saímos em solidariedade com o povo”, afirmou Silva.
“Eles querem definir a sua independência, mas a Indonésia não lhes dá essa oportunidade”, sublinhou.
Enquanto falava com os jovens, a reportagem da Lusa foi alvo de intimidação por parte de um homem, à civil, que sem se identificar começou a questionar o jornalista e com aspereza tentou que o telemóvel usado na entrevista fosse baixado.
Insistiu que os jornalistas não podiam usar telemóveis, só câmaras e que tinham que andar na rua com identificação visível ao peito, mas só depois de insistência é que disse que era polícia, mostrando parte de um crachá mas sem nunca mostrar claramente essa identificação.
O homem exigiu que os jovens, que filmaram a cena, apagassem os vídeos, também sem nunca, em qualquer momento, se ter adequadamente identificado perante os jovens.
A Papua Ocidental está praticamente inacessível a jornalistas e a organizações não-governamentais, com notícias esporádicas a darem conta de ações regulares contra o movimento independentista.
Os últimos confrontos, que voltaram a suscitar atenção médica para a região começaram na semana passada, com milhares de manifestantes pró-independência a incendiarem o edifício do parlamento local e organizaram outros tumultos nas províncias indonésias de Papua e Papua Ocidental.
O vice-governador da província de Papua Ocidental, Mohammad Lakotani, disse que a manifestação de hoje foi um protesto contra alegadas detenções e insultos a dezenas de estudantes papuas nas cidades de Surabaya e Malang, província de Java Oriental, feitas pelas forças de segurança.
Os protestos foram convocados após a prisão de 43 ativistas universitários, que na sexta-feira e no sábado foram cercados na sua residência na cidade de Surabaya, em Java, por nacionalistas indonésios por terem, alegadamente, profanado a bandeira daquele país asiático.
Os protestos cresceram desde aí com o Governo a enviar para a região mais mil efetivos das forças de segurança, cortando o acesso à internet, depois de vídeos começarem a circular nas redes sociais mostrando cargas das forças de segurança.
Ativistas dizem que os protestos são os maiores dos últimos anos, ocorrendo em vários locais da província indonésia, com a imprensa indonésia a referirem que quase meia centena de pessoas já foram detidas.
Benny Wenda, um dos principais líderes da região, atualmente exilado, diz que os protestos são a resposta a “quase 60 anos de racismo, discriminação e tortura pela Indonésia do povo da Papua Ocidental”.
Pelo menos 95 pessoas morreram nas mãos das Forças de Segurança indonésias em Papua e Papua Ocidental entre 2010 e 2018, segundo a Amnistia Internacional, pelo que tanto os jornalistas como os observadores estrangeiros têm restringido o acesso a essas duas províncias
As duas províncias Papua ocupam a metade ocidental da ilha da Nova Guiné, um território rico em recursos naturais e onde o movimento de independência ganhou força a partir de 1963, quando a Holanda se retirou da Indonésia, até então sua colónia.
A outra metade da Nova Guiné integra o estado independente da República de Papua Nova Guiné.
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