Um estudo publicado pelo jornal Público, “O impacto da imigração no setor agrícola: o caso do Alentejo”, revela que a maioria dos imigrantes vindos da Ásia paga cerca de dez mil euros a redes criadas nos seus países de origem, com o objetivo de regularizarem a sua situação e entrarem na Europa.

“O grande enclave da Costa Vicentina está associado à necessidade de frutos vermelhos, que requer muita mão-de-obra. É uma espécie de plataforma giratória de mão-de-obra: as pessoas entram em Portugal para aceder à regularização, mas o objetivo não é ficar em Odemira", afirma o investigador João Carvalho em declarações à publicação.

“Os imigrantes imaginam o El dorado da Suécia e não o ordenado mínimo de 600 euros que vêm ganhar em Portugal, onde podem regularizar-se, se conseguirem integrar o mercado de trabalho. A vulnerabilidade das pessoas quando estão ao serviço destas empresas é elevada, roça o ilegal e legal”, explica João Carvalho.

Segundo os investigadores, são os imigrantes que suportam os custos da regularização, da sobrelotação da habitação e o custo da desregulamentação do mercado de trabalho.

O estudo faz uma análise macro e uma análise micro com base em entrevistas em profundidade e inquéritos por questionário online com empresas e trabalhadores estrangeiros.

O documento revela que a maioria dos trabalhadores agrícolas não consegue trabalhar durante os 12 meses do ano e com um rendimento inferior ao limiar de pobreza, justificando que “as empresas menos sazonais em Odemira terão produção durante 10 meses; o pico serão cinco meses”.

Para os investigadores, as eventuais soluções para este problema podem passar por celebrar acordos bilaterais de contratação de mão-de-obra estrangeira com os países de origem - para diminuir o valor cobrado pelas redes -, além da regulamentação das habitações e construção de albergues.

Os investigadores criticam ainda a legislação portuguesa, por negligenciar o caráter sazonal da agricultura, sugerindo a criação de um subsídio de desemprego para este tipo de trabalhador.