Questionado hoje pelos jornalistas acerca da reportagem de terça-feira do jornal Público que dava conta de uma transferência do tráfico de droga do Porto da Pasteleira Nova para outros bairros, nomeadamente na zona oriental da cidade, José Luís Carneiro disse que tinha alertado para essa possibilidade.

“Se recuperar as peças que puderam fazer sobre esse tema, poderão recuperar que eu tinha alertado para esse facto”, à semelhança do que já tinha acontecido com antigos bairros, nomeadamente o Aleixo e São João de Deus, disse hoje aos jornalistas no Porto.

O ministro recordou que, “quando se destruíram os bairros de São João de Deus, tinha-se a convicção que desaparecia o problema do tráfico de droga desses bairros. Depois destruiu-se o bairro do Aleixo, e também se julgou que se destruía o problema do bairro do Aleixo e da droga”.

Dizendo que “agora os cidadãos quiseram intervenções policiais musculadas, com certeza”, José Luís Carneiro disse que “o que acontece é que esses fenómenos deslocalizam-se para outros pontos da cidade”.

“Quando houver uma atuação nesses pontos da cidade, eles irão deslocar-se para outros pontos”, considerou o ministro.

O governante falava aos jornalistas após a sessão de abertura da MAI Tech, uma conferência de tecnologia nas áreas da segurança e proteção civil, promovida pelo Ministério da Administração Interna na Reitoria da Universidade do Porto.

Já em março, José Luís Carneiro defendeu “não haver soluções céleres” para o problema da toxicodependência e alertou que pôr “rótulos” nas zonas do Porto associadas ao tráfico é “nocivo” para os moradores.

Considerando então que a intervenção policial “é apenas uma parte da equação”, puxou dos números para dizer que em 2022 “houve mais 30% de operações policiais que em 2019”.

“Foram mais de 450 as detenções realizadas em 2022 nomeadamente nessa área considerada crítica da cidade do Porto [Bairros da Pasteleira e de Pinheiro Torres]. Temos que evitar criar rótulos sobre os territórios porque são muito nocivos para quem lá vive e, em vez de ajudarem a resolver os problemas, criam marcas por vezes profundas em quem lá vive e isso é o oposto do que deve ser feito em termos de inclusão e de desenvolvimento das comunidades locais”, acrescentou.

Um mês depois, e numa ampla operação no Grande Porto, centrada nos bairros da Pasteleira Nova e Pasteleira Velha, que visava “um conjunto alargado” de indivíduos que de forma organizada se dedicavam ao tráfico de droga, a PSP apreendeu mais de 62 mil doses de droga (11 quilos de heroína, cocaína, haxixe e anfetaminas), e deteve 15 pessoas, nove homens e seis mulheres.

Durante a operação, o diretor da PSP, Magina da Silva, garantiu, especificamente quanto ao bairro da Pasteleira Nova, que a polícia trava neste um combate “sem tréguas e sem intervalos”.

Dizendo que este bairro é um dos mais policiados de Portugal, Magina da Silva revelou então que só desde janeiro a PSP já deteve 187 pessoas e apreendeu 11.800 doses de droga e 24 mil euros.

Assinalando novamente hoje que “a atuação policial não resolve o problema da toxicodependência”, pode sim é “quebrar redes de tráfico de droga”, José Luís Carneiro defendeu que as “matérias relacionadas com os comportamentos aditivos têm que ter uma resposta integrada de segurança, naturalmente, mas de saúde pública, de segurança social, de inclusão e políticas sociais”.

Questionado acerca de um eventual reforço da segurança nos locais que estão agora a receber novos fluxos do tráfico de droga, José Luís Carneiro disse que “só o tratamento e a identificação dos toxicodependentes, o seu encaminhamento, e o seu tratamento é que poderá resolver, de forma duradoura, esse problema”.

Já em maio de 2019, o Bloco de Esquerda denunciou que o desmantelamento então do bairro do Aleixo, no Porto, estava a conduzir a uma “pulverização” do consumo e do tráfico de droga na cidade.