“A resolução foi aprovada”, anunciou o presidente da assembleia, o brasileiro Santiago Irazabal Mourão, desencadeando aplausos.

No total, 132 Estados votaram a favor do regresso dos norte-americanos, 15 abstiveram-se e dez opuseram-se, entre os quais o Irão, a Síria, a China e, sobretudo, a Rússia, cuja delegação multiplicou na quinta-feira as intervenções sobre questões processuais e hoje sobre alterações, com o objetivo de prolongar os debates.

“Estaríamos dispostos a acolher favoravelmente a intenção de Washington” de voltar a fazer parte da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o que “permitiria fortalecer a nossa organização”, mas “pensamos que estão a tentar levar-nos para um mundo paralelo, que realmente ultrapassa todas as descrições absurdas dos livros de Lewis Carroll (autor de ‘Alice no País das Maravilhas’)”, argumentou hoje um diplomata russo.

“Nesse espaço distorcido, aqueles que defendem a democracia e o primado do direito começam a encaminhar-nos para uma violação dessas normas e a arrogar-se direitos privilegiados”, prosseguiu, defendendo que os Estados Unidos devem pagar integralmente as suas dívidas à UNESCO antes de poderem voltar a juntar-se a ela, ao passo que Washington propõe fazê-lo faseadamente.

Por seu lado, um diplomata iraniano sustentou que “a forma como os Estados Unidos pediram o regresso não é aceitável”, configurando “uma violação do espírito da constituição” desta instituição.

Washington abandonou a UNESCO em outubro de 2017, condenando as “persistentes posições anti-israelitas” da organização. A sua saída, acompanhada da de Israel, foi efetivada em dezembro de 2018.

A partir de 2011, e da admissão da Palestina na UNESCO, os Estados Unidos, então liderados pelo Presidente Barack Obama, suspenderam todo o financiamento à agência especializada da ONU, o que foi um enorme revés para esta, uma vez que as contribuições norte-americanas representavam 22% do seu orçamento.

Mas Washington propôs no início de junho deste ano, numa carta dirigida à diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, “um plano” para o seu regresso à organização.

Sendo atualmente a dívida norte-americana junto da UNESCO, contraída entre 2011 e 2018, de 619 milhões de dólares (567 milhões de euros) – ou seja mais que o orçamento anual da agência especializada, estimado em 534 milhões de dólares (489 milhões de euros) -, o Governo do Presidente Joe Biden indicou ter pedido ao Congresso para desembolsar 150 milhões de dólares (137,4 milhões de euros) para o ano fiscal de 2024, devendo um valor equivalente ser pago nos anos seguintes, “até estar saldada” a dívida do país à UNESCO.