Este é o quarto debate para as Eleições Europeias de dia 9 de junho, que junta na mesma mesa João Oliveira (CDU), Pedro Fidalgo Marques (PAN), João Cotrim de Figueiredo (Iniciativa Liberal) e António Tânger Corrêa (Chega).
Quem ganhou?
Num confronto que começou com questões sobre o crescimento económico e sem grandes divergências até mais de metade, a verdade é que iria aquecer bastante quando surgiu a questão da Defesa.
Munido dos melhores argumentos a que já estamos habituados, João Oliveira tentou defender que "o mundo já gasta dinheiro a mais em armas", criticando a a NATO e a luta em nome da Aliança nomeadamente através do regresso do Serviço Militar Obrigatório.
Este foi o momento para o candidato da IL rebater e afirmar: "Se fosses ucraniano, como é que combatias um invasor como o russo?". "Enquanto houver Putins alguém tem de fazer frente e estar armado".
Depois disso, esperando a sua vez de intervir, ainda declarou peremptoriamente que: "Enquanto houver no espaço europeu e mundial tiranos, imperialistas e sanguinários disponíveis a sacrificar o seu povo e o dos outros para missões pessoais, o mundo democrático e livre tem obrigação de se defender", declarando o PCP como 'amigo' de Putin.
O comunista não se deixou ficar e respondeu que o candidato liberal era mentiroso, declarando que "acredita nos planos da Rússia para controlar Europa como nas armas de destruição maciça no Iraque", sendo tudo isto "propaganda de guerra”.
Os restantes candidatos na mesa foram mais ao encontro da posição da Iniciativa Liberal, apesar de defenderem as suas versões para a defesa do país, e o candidato do PAN, Pedro Fidalgo Marques, sentado ao lado de João Oliveira, assumiu-se até como o "adulto responsável na sala" e defendeu que é necessário serem "pragmáticos".
Com as palavras mais peremptórias do debate e com o discurso mais coerente e que reuniu mais concordância na mesa, Cotrim de Figueiredo é o vencedor deste debate onde, mesmo no fim e já sem tempo para os restantes candidatos falarem, ficámos a saber que o candidato do Chega recusou que o partido vá integrar uma família europeia "pró-Rússia" e apontou que se vai "reformular a constituição do Parlamento Europeu em termos de famílias".
O que querem para a Europa?
Crescimento da Europa
Cotrim de Figueiredo: "A Europa está a ficar para trás. Há cerca de 15 anos, a economia Europeia (incluindo o Reino Unido) era 15% superior à americana, em termos de PIB global. Passados estes anos, é 25% mais pequena, portanto estamos a falar de uma diferença de 40%, e isto mostra a dificuldade que a Europa tem tido em manter os olhos na bola", começou por afirmar o cabeça de lista da IL.
“Deixámos de ter a paz assegurada, deixámos de ter as liberdades suficientemente defendidas e deixámos de ser prósperos”, lamentou ainda, e lembrou que há diretivas que não estão a ser bem "transpostas" ou "executadas".
Tânger Corrêa: Na primeira intervenção neste debate e confrontado com a possibilidade se se dever transferir mais competências para Bruxelas, o candidato do Chega afirmou que "não são a favor de transferir mais competências para Bruxelas". “Somos a favor de um maior entendimento entre os países, mas não um entendimento forçado”, diz.
O candidato lembrou também que a origem do problema está na deslocalização da indústria para a Ásia, “com mão-de-obra mais barata”, o que representou, no seu entender, uma “transferência tecnológica” que deixou a Europa “menos competitiva”.
“Não é por haver mais integração europeia que a Europa vai voltar a ser competitiva novamente”, diz ainda.
João Oliveira: O comunista da CDU lembrou que sempre tem defendido "outra abordagem” sobre a capacidade de produção em cada país e de “defesa dos setores produtivos”.
Virando o debate para a realidade portuguesa, diz, em comparação com países mais díspares, que "encontramos a situação de países como Portugal, em que a desindustrialização foi, provavelmente, uma das maiores dificuldades que nos foi criada”.
Defende também uma abordagem onde se “criem condições para que cada país possa encontrar as soluções mais adaptadas à sua circunstância para poder desenvolver a sua produção”.
"É preciso encontrar mecanismos que permitam aos países libertar todo o seu potencial produtivo", afirma.
Pedro Fidalgo Marques: O candidato do PAN começa por esclarecer que, por ano, são investidos 300 mil milhões de euros em subsídios “para os combustíveis fósseis”, dinheiro que o PAN considera que deveria estar a ser direcionado para a transição climática, e que comparou com os valores recebidos de Portugal vindos da União Europeia: “cerca de 160 mil milhões”.
“Todos os anos são dados em apoios aos combustíveis fósseis o dobro do que Portugal recebeu em 38 anos”, compara.
"Quanto mais atrasarmos a transição climática, maiores prejuízos vão existir", refere e defende ainda que serão as "famílias mais pobres a sofrer".
Regresso da austeridade
Cotrim de Figueiredo: "Precisamos de reter os melhores europeus", afirma João Cotrim de Figueiredo, considerando que a saída de jovens de Portugal "vai acontecer na Europa".
Defende ainda que temas como o alargamento e a transição digital são muito exigentes do ponto de vista financeiro, mas também do ponto de vista técnico - e que, por isso, é preciso reter os melhores europeus na Europa.
“Onde é que vão estar os engenheiros que vão fazer as transições energéticas e digitais?”, questiona ainda. “Mais do que financeira, é uma questão de dar oportunidades às pessoas para ficarem aqui”, diz.
João Oliveira: O candidato da CDU contestou as regras aprovadas no Parlamento Europeu, afirmando que o Pacto de Estabilidade “está transformado em pacto de austeridade”.
“Já em pouco se distingue dos tempos da troika”, afirma João Oliveira, defendendo que, ao procurar controlar o destino da despesa, o mecanismo tornou-se num “instrumento de condicionamento”.
Tânger Corrêa: Após ser acusado de ser antieuropeísta pelo candidato do PAN, Tânger Corrêa optou por argumentar: “Trabalhei para a UE, negociei tratados extremamente importantes e fui enviado especial da UE para a paz no Kosovo”.
Disse ainda que não consegue classificar as regras europeias como uma forma de estrangulamento nem de evitar o caos.
“Pode ser os dois, de alguma forma. Somos contra o reforço das normas orçamentais, completamente controladas pela Comissão. Achamos que a Comissão tem demasiado poder dentro das instituições europeias. Somos favoráveis a uma maior intervenção do Parlamento Europeu e do Conselho”.
Sobre a acusação do PAN, disse ainda: “Somos sistematicamente acusados de dizer coisas que não dizemos, nem sequer pensamos”. Neste tema, Cotrim lembrou que André Ventura, que queria fundos europeus a pagar pensões.
Pedro Fidalgo Marques: O candidato do PAN foi desafiado pela moderadora a justificar onde se vai buscar os 500 mil milhões de euros necessários para fazer a transição ambiental, e atirou ao Chega o facto de ter ficado “claro” que “o partido quer colocar em causa o estilo de vida dos portugueses”.
Cibersegurança
Pedro Fidalgo Marques: "Temos que investir em inovação e tecnologia", defende Pedro Fidalgo Marques, e aponta para a importância de combater a desinformação apontando o dedo à extrema-direita. "A cibersegurança muitas vezes é esquecida", diz. "Tem de haver uma linha vermelha no discurso de ódio porque o discurso de ódio mata", aponta.
Tânger Corrêa: Sobre este tema, o candidato do Chega diz que a "liberdade de expressão não pode ter limites" e defende que as acusações apontadas ao Chega também são "discurso de ódio".
"Agendas woke e outro tipo de radicalismos são nocivos à evolução da democracia. As minorias estão a tomar conta do discurso político e isso não podemos aceitar. Não é intolerância”, diz.
"Respeitamos as minorias, desde que as minorias sejam minorias", atira.
Cotrim de Figueiredo: O cabaça de lista da IL diz que "há sempre teorias interessantes que o Tânger Corrêa traz para a discussão. Esta das minorias é uma delas", ironiza Cotrim de Figueiredo.
"Se admitirmos direito de limitar discurso por desinformação, estamos a abrir o caminho do ministério da verdade", sublinha.
O liberal diz ainda que "devemos apostar no discurso aberto sobre a desinformação", no fact-checking e na tecnologia. Para o candidato liberal, a cibersegurança deve mesmo ser o quarto ramo das forças armadas.
João Oliveira: O último a tocar neste tema é João Oliveira, que diz que a CDU defende que é necessário um "aprofundamento da democracia": "Que é tudo o oposto daquilo que disse o Tânger Corrêa", refere.
O comunista defende assim uma aposta na Educação e na Cultura, para que possa haver discussão. "É na garantia dos direitos sociais" como "direitos universais" que está a solução, refere.
João Oliveira atira ainda acusações ao Chega, defendendo que o partido insulta os outros com recurso a "expressões racistas e xenófobas".
Depois destas afirmações, o candidato do Chega respondeu: "Acho extraordinário o PCP vir com discurso sobre liberdade e democracia".
Defesa
Tânger Corrêa: O candidato do Chega afirma que Portugal "é um país geoestrategicamente fraco, vulnerável" e que "temos de voltar a ter capacidade de Defesa". Assim, deve existir a reativação da indústria de Defesa.
João Oliveira: "O mundo já gasta dinheiro a mais em armas", diz João Oliveira, afirmando ser contra a reativação da indústria de Defesa nacional.
O cabeça de lista da CDU criticou ainda a NATO e a luta em nome da Aliança. "Recusamos inteiramente esse caminho", refere, criticando "guerras de agressão" em que se vai "morrer em nome da NATO".
Cotrim de Figueiredo atirou neste momento que: "Se fosses ucraniano como é que combatias um invasor como o russo?". "Enquanto houver Putins alguém tem de fazer frente e estar armado", acrescenta o liberal.
Pedro Fidalgo Marques: O candidato do PAN assumiu-se como o "adulto responsável na sala" e defendeu que é necessário serem "pragmáticos".
"Temos uma guerra na Europa", afirma e diz que o "sofrimento" não pode ser ignorado.
Diz ainda ser a favor da criação de "forças de intervenção rápida multinacionais" e avisa: "Quem invade a Ucrânia, a seguir vai à Geórgia e depois vai à Europa".
Cotrim de Figueiredo: "Enquanto houver no espaço europeu e mundial tiranos, imperialistas e sanguinários disponíveis a sacrificar o seu povo e o dos outros para missões pessoais, o mundo democrático e livre tem obrigação de se defender", diz João Cotrim de Figueiredo, referindo-se ainda ao PCP como 'amigo' de Putin.
Aqui, João Oliveira respondeu: "Não seja ofensivo nem mentiroso". Questionado sobre os perigos de uma vitória russa na guerra com a Ucrânia, João Oliveira diz acreditar "nos planos de a Rússia para controlar Europa como nas armas de destruição maciça no Iraque". “É propaganda de guerra”, declara o comunista.
As famílias europeias
Tânger Corrêa: O candidato do Chega recusou que o partido vai integrar uma família europeia "pró-Rússia" e apontou que se vai "reformular a constituição do Parlamento Europeu em termos de famílias".
Apesar de ser membro do Identidade e Democracia (ID), “alguns partidos com ligação à Rússia”, Tânger Corrêa garante que "podem contar com o Chega para defender a Ucrânia de corpo inteiro" na Europa, tendo assumido a responsabilidade, em conjunto com o líder do Chega, de não alinhar em nenhuma iniciativa política dos restantes partidos do ID que possa ser contra a Ucrânia.
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