"Estamos a eliminar os sedimentos com ferramentas de dragagem adicionais", afirmou Yukito Higaki, presidente da empresa japonesa Shoei Kisen, proprietária do navio, adiantando que espera o desbloqueio do "MV Ever Given" no sábado à noite.
"O navio não tem problemas de entrada de água. Não tem problemas com o leme, nem com as hélices. Depois de retornar à tona, deve conseguir funcionar”, acrescentou o executivo.
A empresa contratada para a operação de desencalhe do "Ever Given" expressou mais prudência até o momento sobre a retomada do tráfego no canal.
O cargueiro pode ser desencalhado "no início da próxima semana", afirmou o diretor executivo da Royal Boskalis, a empresa matriz da Smit Salvage, grupo holandês contratado para ajudar na missão.
"Com os barcos que teremos no local, a terra que já conseguimos dragar e a maré alta, esperamos que seja suficiente para desencalhar o navio no início da próxima semana, afirmou Peter Berdowski.
Se isto não for suficiente, será necessário retirar os contentores para reduzir o peso do cargueiro, advertiu Berdowski, uma solução que levaria muito mais tempo.
"Já estamos a instalar uma grua, em terra", disse Berdowski. "Isto permitirá retirar eventualmente todos os contentores do convés da proa, o que pode significar centenas de contentores", acrescentou.
Na sexta-feira, a Smit Salvage chegou a citar "dias e até semanas" para a retomada do tráfego no canal, por onde passa 10% do comércio marítimo internacional.
Desde quarta-feira, a Autoridade do Canal de Suez (SCA) tenta desencalhar o navio de mais de 220.000 toneladas e com um tamanho equivalente a quatro campos de futebol. O cargueiro está preso no sul do canal, a alguns quilómetros da cidade de Suez.
Uma operação da SCA na sexta-feira, com a ajuda rebocadores, "não teve sucesso", informou a Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), empresa com sede em Singapura e responsável pela gestão técnica do navio.
Outros dois rebocadores egípcios, de 220 e 240 toneladas, devem ser enviados ao local, segundo a empresa.
Mais de 200 navios em fila de espera
O incidente de terça-feira, provocado por fortes ventos e uma tempestade de areia, de acordo com várias fontes, provocou um grande engarrafamento de navios.
Segundo a revista especializada Lloyd's List, mais de 200 navios estavam bloqueados na sexta-feira nos dois extremos e na zona de espera, localizado no centro do canal, o que gera grandes atrasos na entrega de petróleo e outros produtos.
A publicação calcula que o porta-contentores está a bloquear o equivalente a 9.6oo milhões de dólares de carga por dia.
A gigante do transporte marítimo Maersk e a alemã Hapag-Lloyd informaram na quinta-feira que examinavam a possibilidade de desviar os navios e passar pelo Cabo da Boa Esperança, um desvio de 9.000 quilómetros e pelo menos sete dias adicionais de viagem em redor do continente africano.
Em comunicado, o almirante Osama Rabie, presidente da SCA, explicou na sexta-feira à noite que "as manobras de reboque exigem a conjunção de vários factores (...) dos quais o mais importante é a direção dos ventos e das marés, antes de destacar um "processo técnico complexo".
Uma maré alta esperada para domingo à tarde pode "ser uma grande ajuda" para as equipas técnicas que tentam libertar o navio, afirmou à AFP Plamen Natzkoff, especialista da VesselsValue.
"Se não conseguirem libertar o navio, a próxima maré alta não acontecerá em menos de 15 dias e isto pode ser problemático", completou.
Preso na margem
"O 'Ever Given' não está apenas preso na areia da superfície, também está retido dentro da margem", disse Natzkoff.
"Será necessário cavar onde o navio está preso, para que possa voltar a ter movimento. E isto, claramente, é um trabalho enorme", completou.
As escavadoras começaram a trabalhar na quarta-feira e as dragas começaram a sugar a areia debaixo do navio na sexta-feira para facilitar o trabalho dos rebocadores.
A empresa que explora o cargueiro, a Evergreen Marine Corp, com sede em Taiwan, pediu à empresa holandesa Smit Salvage e à japonesa Nippon Salvage "um plano mais eficaz" que o aplicado até agora. Os primeiros especialistas chegaram ao local na quinta-feira.
Quase 19 mil navios utilizaram o canal em 2020, segundo a SCA, o equivalente à média de 51,5 por dia.
Um relatório da Allianz Global Corporate & Specialty sobre segurança marítima aponta que o "Canal de Suez apresenta um excelente balanço de segurança em seu conjunto, e os incidentes de navegação são extremamente raros, com 75 incidentes na última década".
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