Segundo uma reportagem publicada hoje pela revista Veja (conteúdo exclusivo para assinantes), que cita informações até agora sob sigilo, o ex-ministro Antonio Palloci declarou, num depoimento à justiça em regime de delação premiada (benefício legal concedido a um réu que aceite colaborar com a investigação criminal), que os subornos eram destinados a campanhas eleitorais em troca de favores do partido.
Os benefícios iam desde a “menor tributação para um setor específico, obtenção de alguma linha de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social para essas empresas, auxílio em fusão de grupos de um mesmo setor ou apoio da base governamental a medidas que tramitavam no Congresso”, diz a Veja.
De acordo com a delação de Antonio Palocci, parte das doações foi declarada e o dinheiro era proveniente de grandes grupos e empresas, a partir de negociações feitas pelo próprio antigo ministro e pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari, que se encontra preso no âmbito da Lava Jato, maior operação contra a corrupção no Brasil.
Ainda segundo a revista, o acordo firmado por Palocci no Supremo Tribunal Federal envolve 12 políticos, entre ex-ministros, parlamentares e ex-parlamentares, e 16 empresas.
Entre as declarações de Palocci destaca-se ainda a de que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, recebeu de três empreiteiras (Camargo Correa, Odebrecht e OAS) 3,8 milhões de reais (850 mil euros) na campanha eleitoral de 2010, quando foi eleita senadora pelo Paraná.
O ex-ministro mencionou também que o ex-chefe de Estado Lula da Silva teria recebido um milhão de dólares (900 mil euros) do líder líbio Muamar Kadafi, morto em 2011. O dinheiro teria servido para a campanha eleitoral à presidência do país de Lula em 2002.
Palocci revelou à Polícia Federal as transferências milionárias, na forma de doações oficiais e via 'caixa dois' - recursos financeiros não contabilizados e não declarados aos órgãos de fiscalização competentes - na campanha de 2010, para os políticos do PT Fernando Pimentel e Tião Viana, que governaram, respetivamente, os estados de Minas Gerais e Acre, e para o ex-senador Lindbergh Farias.
O antigo ministro detalhou ainda como o grupo Odebrecht transferiu 50 milhões de reais (11 milhões de euros) ao PT em troca de vantagens no Programa de Desenvolvimento de Submarinos, uma parceria firmada em 2008, entre o Brasil e a França. O valor foi destinado à campanha de Dilma Rousseff em 2014.
O episódio já tinha sido revelado por Marcelo Odebrecht na delação premiada da própria empreiteira.
A Veja noticia também que na delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Antonio Palocci confirma a transferência de verbas pela companhia administradora de planos de saúde Qualicorp ao PT, ao Instituto Lula e à Touchdown, empresa de marketing desportivo de Luis Cláudio Lula da Silva, filho mais novo do antigo chefe de Estado brasileiro.
Os pagamentos teriam sido feitos em troca de “benefícios concedidos pelo Governo” à empresa na Agência Nacional de Saúde Suplementar, segundo o ex-ministro.
Antonio Palocci, que foi ministro da Fazenda (pasta atualmente denominada de Ministério da Economia) do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chefe da Casa Civil na gestão de Dilma Rousseff, cumpre pena de nove anos e 10 meses de prisão domiciliária, com pulseira eletrónica, por corrupção passiva e branqueamento de capitais.
Já Lula da Silva cumpre pena em regime fechado de oito anos e 10 meses de prisão na cidade de Curitiba desde 7 de abril do ano passado, por corrupção.
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