“A verificação dos factos é a essência do jornalismo”, resume o também subdiretor adjunto para a Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em entrevista à Lusa. Por isso, considera, “não é preciso haver equipas especiais de ‘fact-checking’, os próprios jornalistas têm obrigação de fazer ‘fact-checking’”.
Aos alunos, António Granado alerta: “O nosso nome profissional está acima do nome da nossa empresa ou da empresa para a qual trabalhamos.” E fala-lhes da cláusula de consciência, prevista na lei.
“Não tens a certeza? Não se publica. Não te escondes atrás de fontes próximas de fontes próximas”, frisa, recordando que isso “está constantemente a acontecer” e dando como exemplo as “centenas” de transferências de jogadores anunciadas, todos os anos, entre junho e setembro, para os clubes de futebol portugueses.
Segundo o estudo de um aluno de mestrado da faculdade, “apenas um terço dessas transferências se confirmam”. Portanto, são publicados “dois terços de notícias falsas, de desinformação”, contabiliza.
Face a isto, “os jornalistas têm é de se preocupar consigo próprios”, aconselha António Granado, que trabalhou como jornalista no Público e na RTP. “De cada vez que os jornais publicam uma notícia falsa estão a pregar um prego no caixão do jornalismo e isto acontece praticamente todos os dias. Os jornalistas gostam muito de atirar a culpa para cima dos outros”, critica.
“Basta cumprir o Código Deontológico, o Código Deontológico é mais do que suficiente para não haver desinformação nos media”, defende.
“A desinformação é cada vez maior e preocupa-me fundamentalmente que os próprios media não estejam a conseguir lidar com essa desinformação. E, muitas vezes, alguns media contribuem até para essa desinformação”, reflete, notando que “o que interessa” é separar o trigo do joio e publicar o primeiro.
A questão “ultrapassa” os media, mas estes “podem fazer alguma coisa por isso”, acredita. “Quando os media publicam sem verificar a informação, os media estão também a contribuir para um fenómeno de desinformação, que, infelizmente, já atingiu níveis bastante preocupantes, que, inclusivamente, já levou até a mudar resultados eleitorais”, recorda.
Ainda assim, o professor exclui as tentativas de controlo da internet. “Não vejo nenhuma necessidade de regulação”, descarta, reconhecendo que haverá “sempre pessoas que podem querer publicar informação falsa”.
O que é “inaceitável é os próprios órgãos de comunicação publicarem informação falsa”, lamenta.
“Vejo é necessidade de que jornais de referência não publiquem que a procuradora-geral da República não vai mudar e dois dias depois a procuradora-geral da República muda. Não vejo com bons olhos que se publiquem mortes de pessoas que depois, afinal, parece que não morreram”, exemplifica.
Outro caso ainda: “Duzentas mil pessoas estiveram na Praça do Comércio a assistir aos festejos de Ano Novo. Não cabem duzentas mil pessoas na Praça do Comércio!”
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