Cidália Luís, que lidera com a sua irmã a empresa M. Luis Construction, sediada em Maryland, estava a entrar no avião com destino a Portugal quando os votos das eleições começavam a ser contados.
Quando aterrou e se apercebeu dos resultados, sentiu, "por uns instantes" que estava a "viver num mundo paralelo", conta à Lusa aquela que é uma das responsáveis da empresa, fundada pelos seus pais, Manuel e Albertina, há 30 anos, com uma "carrinha e um carro de mão".
Apesar de ter esperado e preferido que Hillary Clinton ganhasse, Cidália sublinha que "a democracia é a voz do povo", mostrando-se confiante na "resiliência muito grande [dos norte americanos], especialmente em momentos muito difíceis como este".
"Para uns foi uma desilusão enorme, para outros foi um sucesso fantástico. Foi o povo que falou e foi o desânimo que existe no país que falou", sublinhou Cidália que, com a sua irmã Natália, foi convidada a estar na Casa Branca em setembro de 2013, onde Obama assinalou a capacidade de resistência dos negócios que tinham sobrevivido à crise financeira de 2008.
Para Cidália Luís, tem "de haver mudanças", recordando que "não é justo nem possível", aquilo que as pessoas pagam neste momento nos Estados Unidos para ter uma casa.
"Eu não achei que os resultados fossem uma grande surpresa. Trabalhamos na indústria [da construção civil e produção de asfalto] e vemos as pessoas a trabalharem no duro, a suarem para ganharem o pão de cada dia. Há muitas pessoas nos Estados Unidos que estão muito frustradas, por causa das injustiças que acontecem", salientou a irmã Natália, que falava à Lusa na sexta-feira, à margem de uma cerimónia em que o município de Pombal homenageou o pai, Manuel Luís.
A empresária, que considera Obama como um dos melhores presidentes da história da América, acredita que Trump não será tão mau como "aquilo que as pessoas acham".
No entanto, há situações difíceis de lidar para as duas empresárias que são mulheres e, ao mesmo tempo, imigrantes - dois segmentos da população que foram alvo de várias declarações polémicas por parte de Trump.
"Como empreendedora numa área tão tradicionalmente ocupada pelo género masculino, [as declarações de Trump] são imperdoáveis", refere Cidália, tentando relativizar a situação com o facto de o próximo presidente norte-americano não ter preparação política.
"Mas é difícil", frisa.
A promessa de Trump de construir um muro na fronteira com o México não é tida como séria por parte das irmãs.
"Em momentos extremos, dizemos coisas extremas, mas não acredito que isso possa acontecer", salienta Natália, recordando que os Estados Unidos "são um sistema inteiro. Não é só uma pessoa".
Em setembro de 2013, quando Obama assinalou na Casa Branca os cinco anos da falência do Lehman Brothers, as duas irmãs estavam atrás do presidente.
Semanas mais tarde, Barack Obama visitou a sede da empresa, no estado de Maryland, considerando que o percurso de Manuel e Albertina Luís e, depois, das suas duas filhas, é um exemplo do sonho americano.
O casal de Pombal, distrito de Leiria, partiu para a América em 1979 sem saber falar inglês e criou uma empresa que hoje tem mais de 200 trabalhadores.
"Esta história é sobre o que a América é. Começas e talvez não tenhas muito. Trabalhas, agarras as oportunidades e garantes um melhor futuro para a tua família", sublinhou Obama, na altura.
Manuel Luís, natural da localidade de Matos da Ranha, recebeu na sexta-feira a medalha de prestígio e carreira da Câmara Municipal de Pombal, partilhando-a com os emigrantes portugueses, a mulher e as filhas, "o grande esteio" da sua vida.
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