Segundo Pedro Teixeira, a Associação Nacional de Farmácias (ANF) está a criar um serviço com fisiologistas do exercício para receber pessoas com indicação para fazer exercício, fornecendo prescrição de exercício personalizada.
Os fisiologistas de exercício são pessoas licenciadas em Ciências do Desporto e com formação especializada em fisiologia do exercício ou exercício e saúde.
A ideia é a de possibilitar uma prescrição e acompanhamento individualizados e não um aconselhamento breve para a atividade física, algo que pode e deve ser feito pelo médico de família e outros profissionais de saúde.
Pedro Teixeira lembra que há casos de utentes com diabetes, problemas cardíacos ou a recuperar de um cancro e que “precisam de um profissional diferenciado, que saiba adequar o exercício à sua condição” de saúde.
É o tipo de serviço e acompanhamento que não está ao alcance de todos os profissionais de exercício ou profissionais de saúde, indica o especialista da Direção-geral da Saúde (DGS) e da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.
Pedro Teixeira considera que nos centros de saúde, atualmente, não há condições para realizar este acompanhamento especializado e que os médicos de medicina geral e familiar não têm formação específica para esse efeito.
O programa da ANF irá ser preparado com a Associação de Fisiologistas de Exercício de Portugal (AFEP), que procurará garantir que os profissionais que estarão nas farmácias são os mais indicados.
Para o futuro, Pedro Teixeira acredita que o caminho deve passar por ter nos agrupamentos de centros de saúde consultas especializadas de prescrição de exercício físico, tal como existem para a cessação tabágica ou para a diabetes.
Médicos precisas de saber mais sobre atividade física
Também os cursos de Medicina devem passar a ter módulos ou disciplinas vocacionados para a promoção da atividade física, de modo a dar aos médicos mais formação nesta área, defende o diretor do Programa para a Promoção da Atividade Física. Pedro Teixeira advogou que as unidades de saúde portuguesas têm de passar a ser “locais mais propícios à promoção da atividade física”, sendo necessário capacitar os profissionais de saúde para promover a mudança comportamental dos utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Por falta de formação nesta área, os médicos de família dão muitas vezes aos utentes conselhos muito genéricos sobre exercício físico, que, sendo genéricos, acabam por não ser muito eficazes. “Seria bom e desejável integrar nos currículos das faculdades de medicina disciplinas, ou pelo menos módulos, vocacionados para a fisiologia do exercício e promoção da atividade física”, declarou o perito da Direção-Geral da Saúde.
Mais imediato do que esta introdução curricular nos cursos de Medicina é a progressiva adaptação dos cuidados de saúde primários para a promoção da atividade física.
Os médicos de família vão passar a ter nos sistemas informáticos das unidades de saúde três perguntas para fazer aos utentes para saber quem cumpre as recomendações atuais para a atividade física.
No mesmo momento em que se faz a avaliação do peso corporal ou da tensão arterial é possível determinar se a pessoa é ou não fisicamente ativa.
“Não se trata de questões obrigatórias. Mas há forte indicação para serem feitas e passa a ser basilar na ação do médico de família. É a avaliação de mais um sinal vital, a atividade física como sinal vital”, explicou Pedro Teixeira.
Após a avaliação, o ideal é que o profissional de saúde consiga perceber qual a atividade física mais apropriada ao utente, realizando depois um aconselhamento breve com base num protocolo pré-definido.
Para o futuro, a ideia é ter, na comunidade abrangida pelos centros de saúde, programas de exercício físico certificados e com profissionais habilitados, que tanto podem estar em clubes desportivos como em juntas de freguesia ou ginásios.
A forma como o sistema de saúde português se vai adaptar nos próximos anos de modo a ser mais eficaz a ajudar os cidadãos a serem fisicamente ativos é um dos assuntos a ser debatido na próxima semana, dias 15 e 16 de setembro, no Simpósio Internacional ‘Exercise is Medicine’, que decorre em Lisboa e é organizado pela Faculdade de Motricidade Humana e pela DGS.
É um encontro onde estarão cerca de 10 especialistas estrangeiros e mais de 15 peritos portugueses que vão debater igualmente as mais recentes novidades e dados científicos sobre exercício físico e saúde.
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