No primeiro andar do Cinema São Jorge, em Lisboa, seis mesas altas, redondas, serviram de palco para debates entre deputados e cidadãos, com cinco minutos de duração cada, cujo limite era anunciado por uma campainha que interrompeu sempre, sem exceção, a troca de ideias que decorria animada.
Os representantes dos partidos com assento parlamentar - com a exceção do PS, uma vez que Isabel Moreira teve de cancelar a sua presença - foram questionados sobre diferentes temas por aqueles que previamente se tinham inscrito, numa das iniciativas do primeiro dia do Festival Política, que até sábado decorre em Lisboa com o objetivo de pôr a abstenção na agenda e encontrar soluções para a combater.
À agência Lusa, Bárbara Rosa, uma das organizadoras, explicou que com este "Cara a Cara com deputados" se pretendeu "materializar um dos objetivos do festival, que passa por promover a aproximação entre eleitos e eleitores", porque esse "é o melhor caminho" para combater a abstenção, o tema da primeira edição do evento.
À imagem de outros participantes, Rui Abreu, arquiteto de 37 anos, tinha perguntas diferentes para todos os deputados, tendo para a comunista Rita Rato escolhido um acontecimento de hoje no parlamento e que, confessou, o leva a ponderar se o voto que desde os 18 anos deposita na CDU se vai repetir.
Em causa, a incompreensível - na opinião de Rui Abreu - abstenção no PCP no voto de condenação que o parlamento aprovou hoje pela perseguição da população lésbica, ‘gay', bissexual e transgénero (LGBT) na Tchechénia, no qual todos os restantes partidos votaram favoravelmente.
Começando por condenar todos os atos de agressão, Rita Rato replicou os termos da declaração de voto que tinha sido apresentada pelo PCP, na qual justificam que "não tendo sido possível confirmar os factos invocados" não pôde acompanhar uma iniciativa que se funda no que tem sido noticiado pela comunicação social internacional.
Rui Abreu insistiu na pergunta e, apesar de se ter dito "esclarecido" quando a campainha tocou e foi hora de trocar de interlocutor, não estava satisfeito, tendo seguido de imediato para o PEV, para questionar Heloísa Apolónia sobre "o elefante branco do costume" que é a legitimidade do partido "Os Verdes", uma vez que nunca se apresentou sozinho a eleições, mas sempre coligados com o PCP.
André Silva, o deputado único do PAN, começou por receber Ana e Filipa, que pediram a colaboração do partido na divulgação de uma petição pela valorização da Administração Pública, tendo o parlamentar criticado ainda os chamados partidos do arco da governação por "não terem grande interesse em combater a abstenção", uma vez que esta os favorece.
"Trata-me por tu", dizia numa mesa ao lado Mariana Mortágua a Daniel, que elogiou a preparação da deputada do BE, mas lamentou que os debates parlamentares sejam muito ideológicos, nos quais os dados e a especificidade técnica da parlamentar se perdem.
Rosina Ramos levou a Sérgio Azevedo (PSD) - e aos restantes deputados com quem falou - as suas propostas pela literacia financeira e pelo envelhecimento ativo, tendo o social-democrata defendido a necessidade de repensar todo o sistema de ensino português, mas de forma estável, sendo para isso necessário um pacto.
Já Ana Rita Bessa (CDS-PP) foi questionada pelo jovem Gonçalo Correia - que trazia as perguntas escritas para cada um dos deputados - sobre o seu percurso político, as áreas nas quais está o seu trabalho parlamentar se foca mais, para além de querer saber se a centrista gostava mais da política ou da literatura, já que anteriormente tinha trabalhado no grupo Leya.
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