O ambiente hostil (no Inverno as temperaturas chegam aos 73º graus negativos) e a localização remota da Antártica colocam imensos desafios aos humanos e dificulta a missão dos investigadores que estudam as alterações climáticas. Daí que um grupo de cientistas tenha recorrido aos habitantes locais para os ajudar a recolher dados importantes para perceber se o que se passa naquele continente vai alastrar para o resto do planeta.
Por outras palavras, uma equipa da Unidade de Investigação de Mamíferos Marinhos da Universidade de St Andrews, na Escócia, recorreu à ajuda de alguns dos residentes permanentes do frio continente: as focas. De acordo com a CNN, os mamíferos aquáticos peludos prosperam durante todo o ano no clima gelado e podem mergulhar até 914 metros de profundidade. E, segundo explica um dos investigadores, ao colocar uns pequenos aparelhos nos animais, é possível obter informação de um ano.
Ao equipar as focas com estes sensores, os investigadores adquirem conhecimentos sobre os hábitos e a ecologia destes animais, ao mesmo tempo que recolhem dados de partes inacessíveis do oceano — é que há cientistas de todo o mundo que se vão basear nestes dados para aprender mais sobre o ambiente que se vive no ártico e como este pode ter impacto nas alterações climáticas no futuro.
Porém, não é algo novo. A CNN realça que os investigadores têm vindo a marcar estes mamíferos desde 2004. No entanto, pouco se sabia sobre o Mar de Amundsen na Antártida Ocidental, onde se encontram dois grandes glaciares que derretem a uma velocidade preocupante — o Glaciar de Pine Island e o Glaciar Thwaites (que contribuem para a subida do nível do mar). Até uma equipa em 2014 ter começado uma nova missão.
Existem seis espécies na Antártida, mas apenas as focas de Weddell e os elefantes marinhos do sul mergulham nas camadas mais profundas do oceano — sendo esta a principal razão pela qual estas espécies foram escolhidas para a recolha de dados. As focas são caçadas por orcas e outros animais na água, mas não têm predadores terrestres, pelo que os cientistas podem aproximar-se delas facilmente.
Para conseguir instalar os aparelhos, os investigadores utilizam um sedativo que disparam através de um dardo. Depois, colocam um sensor do tamanho de um telemóvel na parte de trás da cabeça do animal (mas o processo não prejudica os animais nem tem impacto nas suas vidas sociais, sendo que o dispositivo cai ao fim de um ano quando mudam de pelo).
Um dos investigadores salienta que a equipa tem cuidado para minimizar as suas interações com as focas. Segundo conta a CNN, foram sinalizadas 14 focas por cada viagem da equipa ao local (2014, 2019 e 2020), sendo que esta reduziu o tempo de todo este processo para apenas 10 minutos por foca, além de estar a trabalhar para diminuir o tamanho dos dispositivos.
À medida que as focas nadam através do oceano, o dispositivo recolhe informação sobre a profundidade, temperatura e salinidade da água em diferentes locais. Posteriormente, quando as focas vêm à superfície, os "perfis de dados" são transmitidos via satélite.
Em 2014, quando o projeto começou, havia menos de 1.000 perfis de dados disponíveis para a área do Mar de Amundsen. Atualmente, com a ajuda das focas, a equipa tem mais de 20.000 referências de dados de milhares de locais em redor da Antártida.
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