"Devido às múltiplas obstruções das autoridades de transição malianas, o Canadá e os Estados europeus que operam ao lado da operação Barkhane e no seio da operação Takuba consideram que as condições políticas, operacionais e jurídicas não estão reunidas para continuar o atual compromisso militar", pode ler-se numa declaração conjunta enviada hoje pelo Palácio do Eliseu às redações.
Esta manhã, o Presidente da República francês, Emmanuel Macron, falou ao lado dos parceiros europeus e africanos para detalhar as razões desta retirada decidida definitivamente num jantar de trabalho no Palácio do Eliseu, que aconteceu na noite de quarta-feira e onde participou o primeiro-ministro português, António Costa.
"Não podemos continuar com uma presença militar ao lado de autoridades com as quais não partilhamos nem a estratégia, nem os objetivos. É a situação com que estamos confrontados no Mali. A luta contra o terrorismo não pode justificar tudo, ela não deve tornar-se, sob o pretexto de ser uma prioridade, num exercício de conservação indefinida do poder nem justificar uma escalada de violência com recurso a mercenários", disse o Presidente francês, mencionando a oposição francesa à associação da junta militar no poder no Mali aos mercenários russos da empresa Wagner.
A luta pelo combate ao terrorismo vai prosseguir no Sahel, ainda segundo a declaração conjunta também assinada por Portugal, com ações "no Níger e no Golfo da Guiné", estando a ser levadas a cabo consultas locais para chegar aos termos de entendimento sobre uma nova missão até junho de 2022.
"Tendo em conta a nova situação no Mali, compreendemos a decisão francesa de não continuar a intervenção no teatro maliano, tendo em conta os golpes de Estado e as difíceis relações entre a junta e as autoridades europeias", disse Macky Sall, Presidente do Senegal e presidente da União Africana na conferência de imprensa.
No entanto, os líderes africanos lembraram que continua a ser necessário agir nesta região do Mundo para travar o terrorismo.
"Toda a África Ocidental, incluindo os Estados costeiros como o Gana, a Costa do Marfim, o Togo e o Benim, são vulneráveis à penetração do terrorismo e, por isso, estamos a analisar a forma como podemos responder de forma eficaz a estas ameaças", precisou o Presidente do Gana, Nana Akufo Addo, que é também atualmente responsável pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que já aplicou fortes sanções ao Mali.
A França possui uma das suas maiores operações militares no Mali desde 2013, com a operação Barkhane a envolver atualmente cerca de 4.300 efetivos no Sahel e cerca de 2.500 estão no Mali. Esta não é a única força estrangeira no país, com um total de 25 mil soldados estrangeiros com diferentes mandatos a atuarem no Sahel.
O desmantelamento da presença militar francesa e europeia no Mali vai acontecer nos próximos "quatro a seis meses", segundo o chefe de Estado francês, com o encerramento já previsto das bases do norte no Mali e um encerramento progressivo dos restantes postos militares. Desde o início da operação Barkhane, morreram 53 franceses no combate ao terrorismo na região.
Portugal está presente com cerca de duas dezenas de militares na operação da força especial europeia Takuba, ao lado de outros parceiros como Alemanha, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Estónia, Grécia, Itália, Noruega, Holanda, Roménia, Reino Unido e Suécia.
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