“São factos extremamente chocantes e, se forem verdade, são extremamente graves”, disse hoje Gabriel Attal, porta-voz do Governo francês, anunciando que será pedida uma investigação e esclarecimentos, após as revelações feitas no domingo sobre um caso de espionagem.
Na Hungria, os deputados da oposição também exigiram um inquérito sobre as denúncias, alegando suspeitas de que o Governo húngaro terá usado o ‘software’ para espiar jornalistas críticos do regime, bem como políticos e empresários.
Um consórcio de 17 órgãos de comunicação internacionais denunciou que jornalistas, ativistas e dissidentes políticos em todo o mundo terão sido espiados graças ao ‘software’ desenvolvido pela empresa israelita NSO Group.
A empresa, fundada em 2011 a norte de Telavive, comercializa o ‘spyware’ Pegasus, que, inserido num ‘smartphone’, permite aceder a mensagens, fotos, contactos e até ouvir as chamadas do proprietário.
A investigação publicada no domingo por um consórcio de 17 órgãos de comunicação internacionais, incluindo o jornal francês Le Monde, o britânico Guardian e o norte-americano The Washington Post, baseia-se numa lista obtida pelas organizações Forbidden Stories e Amnistia Internacional, que incluem 50.000 números de telefone selecionados pelos clientes da NSO desde 2016 para potencial vigilância.
A lista inclui os números de telefone de pelo menos 180 jornalistas, 600 políticos, 85 ativistas de direitos humanos e 65 líderes empresariais, de acordo com a análise realizada pelo consórcio, que localizou muitos em Marrocos, Arábia Saudita e México.
Em França, também o jornal digital Mediapart anunciou que vai apresentar queixa ao Ministério Público de Paris sobre este caso, referindo que, na lista de jornalistas espiados, estão o seu diretor, Edwy Plenel, e o repórter Lénaig Bredoux, cujos números de telemóvel estavam entre os 10.000 que os serviços secretos marroquinos controlavam através do Pegasus.
Também o advogado francês Joseph Breham, cujo escritório acolheu o caso de dissidentes políticos marroquinos no Saara Ocidental, vai apresentar uma queixa, pelos crimes de violação do segredo profissional, receção e intercetação de mensagens e violação de sistema automatizado de processamento de dados.
Na Hungria, três deputados da oposição, que pertencem à comissão parlamentar de segurança nacional, convocaram uma sessão de emergência para questionar as agências governamentais sobre o seu envolvimento neste ato de espionagem.
Janos Stummer, do partido Jobbik, chamou a atenção para o facto de as ações reveladas pela investigação “não serem permitidas num Estado de Direito”, anunciando que será pedido um rigoroso inquérito sobre a possibilidade de o Governo se ter servido do ‘software’ de espionagem para aceder a dados de vários alvos na Hungria, incluindo pelo menos 10 advogados, um político e cinco jornalistas.
Comentários