O juiz de instrução prorrogou a prisão preventiva de Durov, que pode durar até 96 horas, segundo uma fonte ligada ao caso. Depois disso, pode ser solto ou apresentado a um juiz para ouvir uma possível acusação.
A Rússia acusou a França de “recusar-se a cooperar”, depois da polícia francesa ter prendido o bilionário de origem russa e atualmente com passaporte francês e dos Emirados Árabes, de 39 anos, no aeroporto Le Bourget, na noite de sábado. Segundo outra fonte, tinha chegado de Baku, capital do Azerbaijão.
A agência francesa para a prevenção da violência contra menores, OFMIN, emitiu um mandado de prisão contra Durov como parte de uma investigação preliminar sobre vários delitos, incluindo fraude, tráfico de drogas, cyberbullying, crime organizado e promoção do terrorismo, disse uma das fontes. Durov é suspeito de não ter tomado medidas para impedir o uso do Telegram com fins criminosos.
O Telegram afirmou hoje que o seu CEO "não tem nada a esconder e viaja com frequência à Europa", e ressalvou que a plataforma “cumpre as leis da União Europeia. A sua moderação segue os padrões da indústria.” "É absurdo afirmar que uma plataforma ou o seu dono são responsáveis pelos abusos", acrescentou a empresa, sediada no Dubai.
“Chega de impunidade no Telegram”, disse um investigador do caso, que afirmou ter sido surpreendido pela chegada de Durov a Paris, uma vez que ele era procurado.
Autoridades russas disseram que solicitaram acesso a Durov, mas que não receberam resposta da França. “Pedimos imediatamente às autoridades francesas que explicassem os motivos dessa detenção e exigimos que os seus direitos fossem protegidos e que o acesso consular fosse concedido. Até agora, o lado francês recusa-se a cooperar quanto a esta questão”, disse a embaixada russa em Paris num comunicado divulgado pela agência de notícias Ria Novosti.
A ministra dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, informou que Moscovo tinha solicitado acesso consular a Durov, mas que, como ele também tem nacionalidade francesa, “a França considera que essa é a sua nacionalidade principal”.
O Telegram posicionou-se como uma alternativa às plataformas de mensagens dos EUA, criticadas pela sua exploração comercial dos dados pessoais dos utilizadores. Esta aplicação de mensagens criptografadas comprometeu-se a nunca revelar informações sobre os seus utilizadores.
Numa entrevista em abril ao jornalista americano de extrema-direita Tucker Carlson, Durov disse que teve a ideia de lançar uma aplicação de mensagens criptografadas depois de ser pressionado pelo governo russo enquanto trabalhava na VK, uma rede social que ele criou, antes de vendê-la e deixar a Rússia em 2014.
O empresário, que instalou a sede da aplicação em Dubai elogiando a “neutralidade” da cidade, disse a Carlson que as pessoas “adoram a independência. Elas também adoram a privacidade, a liberdade, há muitas razões pelas quais alguém mudaria para o Telegram." Durov afirmou, então, que a app tinha mais de 900 milhões de utilizadores ativos.
Por estar sediado nos Emirados Árabes Unidos, o Telegram foi protegido das leis de moderação motivadas pela pressão dos países ocidentais sobre as grandes plataformas para remover conteúdo ilegal.
O Telegram permite grupos de até 200 mil membros, o que provocou acusações de que facilita a disseminação viral de informações falsas, bem como de utilizadores que disseminam conteúdo neonazi, pedófilo, conspiratório e terrorista.
O serviço de mensagens concorrente WhatsApp introduziu limites globais para o encaminhamento de mensagens em 2019, depois de ter sido acusado de permitir a disseminação de informações falsas na Índia, o que levou a linchamentos.
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