Francisco Rodrigues dos Santos entrou na sala do Congresso cerca das 15:16, sendo aplaudido por apoiantes. Quando subiu ao púlpito para fazer o seu primeiro discurso enquanto líder dos centristas, "Chicão" começou o seu discurso com o cântico: "Portugal, Portugal, Portugal".
Depois, anunciou que o papel do CDS era insubstituível. E não só era insubstituível, como "nasce sempre mais forte" e pronto a "combater as esquerdas e o socialismo vigente em Portugal".
"[Este Congresso] foi uma prova de vida para o CDS. E para aqueles que achavam que o CDS poderia estar a viver um período de definhamento, desenganem-se. O seu papel é insubstituível e indelével na nossa democracia e estamos aqui para combater as esquerdas e o socialismo vigente em Portugal", disse Francisco Rodrigues dos Santos.
Posteriormente, garante que o CDS pertence "aos militantes" e não a "nenhum presidente". E que não o partido não se envergonha "como pretende alguma elite gourmet, intelectual de esquerda", reiterou. Porque a sua intenção passa por reforçar a "malha autárquica" para que o CDS "passe a contar" muitos presidentes de câmara de Norte a Sul, mas também nas Ilhas.
Quando chegou este domingo ao Congresso, o novo presidente já tinha dito que o CDS iniciava um novo ciclo na sua vida. Agora, durante o seu discurso, acrescenta que o "CDS se deve reconciliar com todo o seu passado" pois não tem "arrependimentos permanentes com a história". Porque no "CDS todos fazem falta" e "ninguém está a mais".
Na primeira parte do seu discurso, Rodrigues dos Santos elogiou Filipe Lobo d’Ávila, que foi candidato e aceitou ser vice-presidente da sua direção, pela sua "abnegação, talento, capacidade, humanidade, por reconhecr que o CDS é muito maior que aquelas pequenas diferenças" que os congressos evidenciam.
João Almeida, que saiu derrotado do congresso, os delegados aplaudiram de pé, depois de o líder sublinhar um elogio.
"[É] um dirigente que todos admiramos, homem estimável, que continuará a ser muito útil ao nosso partido na sede parlamentar, a apresentar ideias, propostas e deixar CDS orgulhoso", afirmou ainda.
Mais à frente no discurso, Francisco Rodrigues dos Santos voltou a elogiar o deputado: "É verdade que eu não estarei sentado no parlamento, mas estará sentado um fantástico grupo de deputados da mesma craveira e capacidade do João Almeida", disse.
Um terceiro elogio foi para António Carlos Monteiro, apoiante de João Almeida, que aceitou ser vice-presidente, destacando a sua "experiência, cultura, mundividência, determinantes no processo de reorganização".
Não quer pedir licença à esquerda para defender os seus valores
"A nossa casa comum não precisa de estar dividida contra si mesmo porque isso é sinal de que nunca poderia subsistir. O CDS estará unido numa oposição que não será uma trovoada de críticas nem de protesto porque essa é a atitude própria de quem não tem esperança em Portugal nem nos portugueses. Teremos sim, uma oposição construtiva", disse. No entanto, reiterou que se trata duma oposição que não "pede licença à esquerda para defender os seus valores".
Isto porque o CDS é um "partido de direita, sem complexos e tibiezas, mas não passará os dias a fazer esta proclamação dizendo que o é", como se de um partido de mera "contemplação se tratasse e que não oferece nada aos portugueses" — de quem o CDS quer ser o braço-direito, embora um "com genica, com movimentos, com energia". Assim tem de ser porque, segundo alegou de forma "clara" Francisco Rodrigues dos Santos, "à direita lidera o CDS" e "não lidera nenhum outro partido". A intenção é clara: "construir uma sólida alternativa para o povo não socialista em Portugal".
Paralelamente, diz que "não recebem lições de ninguém. Nem daqueles que chegaram há mais tempo, nem daqueles que chegaram há menos". É que Chicão sublinha que tem um "projeto para Portugal"; projeto esse que passa por "resgatar o Estado a economia da ditadura dos interesses, combatendo a corrupção do nosso colapso ético e moral do sistema político".
Aos delegados, o novo líder adiantou igualmente que o CDS vai bater-se "pela reforma do sistema eleitoral, de modo a devolver a última palavra aos eleitores na escolha dos seus representantes e não aos diretórios partidários".
Outra das propostas dos centristas passa por apresentar um "novo contrato de confiança entre gerações, para que o sistema de Segurança Social garanta uma resposta aos desafios demográficos que se colocam em Portugal".
"Defenderemos um Serviço Nacional de Saúde universal, modernizado e preparado, que dê resposta em tempo útil aos doentes, que não triplique os tempos de espera para cirurgias urgentes, que não seja baseado no preconceito ideológico e que não preste cuidados médicos em corredores", acrescentou.
Ao nível da segurança, Francisco Rodrigues dos Santos defende a renovação da "capacidade operacional das polícias", bem como a "valorização e o prestigio da condição militar e de todos os ex-combatentes".
"Vamos devolver coesão territorial ao país, respeitar as nossas tradições, a ruralidade, contra modas e contra preconceitos, porque não aderimos a agendas animalistas nem queremos julgar o mundo rural com base no óculos do tecnocrata urbano", prosseguiu.
A carga fiscal não ficou esquecida e o líder do CDS diz que quer ser um partido "amigo das famílias e do investimento". E explica porquê: "Portugal é um dos países da zona euro onde a carga fiscal é mais elevada" ["elevadíssimos", enfatizou] num Estado anti-social que deveria de ser o contrário.
O novo líder centrista falou depois para o universo CDS nomeadamente "aos que votam, mas que agora não votaram".
"Espero que, com este trabalho, por cada eleitor que regresse, outro possa vir de novo, para que juntos possamos começar a construir uma sólida alternativa para o povo não socialista em Portugal”, estimou o novo líder, apontando que quer fazer do CDS "uma nova direita".
Rodrigues do Santos quer então tornar o CDS-PP numa "síntese dessa nova direita de Manuel Monteiro, de Paulo Portas, mas também de Lucas Pires, que não está fechada nem centralizada em Lisboa mas andará pelo país, qual locomotiva em andamento e abrirá zonas de debate com a sociedade, dialogará com os portugueses, em contacto com o país real, olhos nos olhos".
Quase a terminar, referiu que "este é momento de união e de tocar a rebate", mas também para acabar com "a força que tem sido dada ao governo socialista de António Costa". E avisa: "o CDS andará pelo país qual locomotiva em andamento".
"Nós vamos a partir de hoje começar a lançar as bases para uma nova maioria de direita em 2023, ou mesmo que este calendário seja antecipado, uma maioria que contará certamente com o papel ativo do CDS", calendarizou.
O novo presidente do CDS-PP comprometeu-se também a não ser "muleta de ninguém", nem "mordomo de nenhum outro partido".
"Não nos vamos diluir em nenhuma força política, nós vamos ser o CDS, nós vamos à luta, um partido de estabilidade, um partido de compromisso, um partido de governo, um partido que somos nós, um partido que é maior do que nós, um partido ao serviço de Portugal e dos portugueses", frisou, desencadeando a maior reação de apoio da sala.
Observando que não é deputado, Rodrigues dos Santos reiterou que a sua "assembleia será o país", e o seu escritório "as ruas de Portugal".
"Estarei empenhado a crescermos no país, para depois aumentarmos os lugares onde nos iremos sentar no parlamento. Porque quando o CDS merece, o povo vota no CDS", advogou no final de um discurso de pouco mais de 20 minutos.
Um partido "sexy" com as autarquias na mira
“Seremos um partido que se tornará sexy, mas não por defendermos ideias que não são as nossas, mas por rejeitarmos negociar os nossos valores, mas por utilizarmos estratégias de comunicação acutilantes, disruptivas, atuais, que suscitem o interesse daqueles que nos seguem”, assegurou Francisco Rodrigues dos Santos aos congressistas na primeira intervenção como presidente do partido.
Falando dos próximos desafios eleitorais, o novo líder do partido assinalou que "o CDS, através desta nova liderança que acompanhará o próximo ciclo de eleições autárquicas, cá estará para reforçar a sua malha de implantação local, para afirmar o partido em cada município do nosso país, para formar listas competitivas".
O objetivo da liderança que sucede a Assunção Cristas passa por "tornar o CDS um partido que, em vez de contar vereadores, passe também a contar muitos presidentes de câmara de norte a sul e ilhas".
Valendo-se das palavras do antigo líder do partido Adelino Amaro da Costa, o centrista apontou que “os sindicatos estão para partidos de esquerda como autarquias para os partidos democratas-cristãos”.
“Temos um passado de que nos orgulhamos, temos provas dadas e não recebemos lições de ninguém, nem dos que chegaram há mais tempo, nem daqueles que chegaram há menos”, frisou, advogando que “o CDS precisa hoje de construir pontes e não erguer muros”, e nota disso são as listas “construídas tendo por suporte as várias sensibilidades que estão representadas neste congresso”.
“No CDS em que acredito cabem todos, há espaço para todos, todos fazem falta e ninguém está a mais para servir o nosso partido”, disse, acrescentando que este é o momento para "o CDS se conciliar com todos os seus ex-presidentes".
Na ótica da nova liderança, “este é o momento de voltar ao terreno com uma identidade clara e com o rosto visível” e convencer os militantes desagradados com o partido a “regressar a casa”, uma casa que “não precisa de estar dividida contra si mesma”.
“Neste CDS renovado acreditamos que seremos capazes de surpreender o país e reconquistar as nossas bases sociais de apoio”, vincou, num discurso de pouco mais de 20 minutos, onde salientou igualmente que a sua liderança não será composta por “políticos que aparentam uma grande firmeza nas suas palavras e revelam uma imensa fraqueza quanto têm que enfrentar as consequências dessas mesmas palavras”.
O até agora líder da Juventude Popular assinalou ainda que “o CDS será o braço direito de todos os portugueses, mas um braço de trabalho, com genica, com movimento e com energia”.
Nova comissão política nacional eleita com 65,7%
Os resultados foram anunciados pelo presidente cessante da mesa do congresso, Luís Queiró, na abertura da sessão de encerramento.
A lista do novo líder recebeu 865 votos, o que corresponde a 65,7%, e 451 votos em branco.
A lista ao conselho nacional, órgão mais importante entre congressos, liderada por Francisco Rodriigues dos Santos, obteve 51,9% (678 votos) e a de João Almeida, o candidato derrotado, obteve 581 (44,5%) e 45 brancos.
O conselho de jurisdição, a que concorreram duas listas, a lista A, a do líder, recolheu 699 votos (53,9%) e a B, de João Almeida, 508 (39,2) e 89 brancos.
Para o conselho de fiscalização também concorreram dias listas, tendo a A recebido 714 votos (54,3%) e a B 490 votos (37,2%) e 111 brancos.
A mesa do congresso, presidida por Martim Borges de Freitas, foi eleita com 879 votos (66,8%) e 435 brancos.
A mesa do conselho nacional, que será presidida por Filipe Anacoreta Correia, obteve 880 votos (67%) e 432 brancos.
Francisco Rodrigues dos Santos entrou na sala do Congresso cerca das 15:16, sendo aplaudido por apoiantes, que gritaram “Portugal/Portugal”.
Acompanhado pelos que serão dois dos seus vice-presidentes, António Carlos Monteiro e Filipe Lobo d`Ávila, Francisco Rodrigues dos Santos cumprimentou pelo caminho os delegados e, no final, os convidados, representantes dos partidos, de confederações sindicais e do governo, entre outros.
Depois, aguardou a proclamação dos resultados das eleições para os órgãos dirigentes antes de subir, com a nova direção, ao palco do congresso para o discurso de encerramento.
Quando foi chamado ao palco, o vice-presidente António Carlos Monteiro, envolvido hoje numa polémica em torno do seu convite para a direção nacional, foi recebido com algumas assobios e poucas palmas, em comparação com outros membros da comissão política.
*Com agências
[Notícia atualizada às 18:10]
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