Simular acidentes para ganhar dinheiro. As seguradoras portuguesas perdem, todos os anos, mais de 30 milhões de euros devido a sinistros simulados nos ramos automóvel e multirriscos. Segundo o Jornal de Notícias (versão impressa) este valor representa, respetivamente, 13% e 4% dos cerca de 70 mil acidentes suspeitos registados e cujo valor pode ascender aos 160 milhões de euros, segundo dados da Associação Portuguesa de Seguradores citados pelo diário.
Regra geral, estas burlas registam-se sobretudo em classes mais favorecidas, com algumas exceções no ramo automóvel e acidentes de trabalho.
Em algumas situações, são apenas cidadãos comuns que simulam acidentes: uma inundação em casa, fogo posto numa empresa, por exemplo. Mas existem casos mais complexos. No ramo automóvel - que registou um volume de negócios de cerca de 1,4 milhões de euros em 2015 - existem redes organizadas que se dedicam a este negócio, causando acidentes propositadamente.
Uma destas redes profissionais, citada pelo jornal, tinha condutores especializados - designados de 'kamikazes', tal como os pilotos suicidas japoneses da II Guerra Mundial - que tinham como missão provocar acidentes, podendo o condutor do veículo receber 2000 euros pelo trabalho prestado.
Manuel Castro, membro do Conselho Diretivo e presidente do Colégio Automóvel da Câmara Nacional dos Peritos Reguladores (CNPR), citado pelo JN, afirma que as redes "são muito complexas, com dezenas de membros, incluindo um cabecilha, standes, oficinas, centros de inspeção e os operacionais". Quanto aos 'kamikazes', refere que estes não hesitam em protagonizar situações perigosas, como lançarem-se contra muros ou de uma ribanceira para simular sinistros. Apesar de usarem alguma proteção, é comum saírem com alguns ferimentos. Tratando-se de carros de gama média ou média-alta, além de o dono do carro ser indemnizado, também o condutor o é em caso de ferimento.
De onde vêm os veículos utilizados
Geralmente, furtam-se veículos e, depois, alteram-se os seus dados identificativos. Em outros casos, compram-se alvados - carros cuja reparação não é economicamente viável - no estrangeiro.
Depois disto, são contratados seguros de danos próprios - que oferecem máxima proteção para o indivíduo e para o veículo - que, muitas vezes, incluem 'extras' que a viatura não possui. Após a destruição pelos 'kamikazes', as seguradoras pagavam o devido. Em algumas situações, estas redes organizadas chegavam a adquirir novamente o salvado para recomeçar todo o processo.
A Associação Portuguesa de Seguradores estima que o número de sinistros suspeitos em 2015 no ramo automóvel ascendeu a quase 60 mil, com custos estimados de 140 milhões de euros. Contudo "em apenas 13% destes destes sinistros acabou por ser comprovada uma situação de fraude, permitindo, ainda assim, uma poupança de quase 20 milhões de euros", detalha a associação, citada pelo jornal.
Estes crimes são designados, no Código Penal, de "Burla relativa a seguros" e a pena de prisão pode chegar aos oito anos. Normalmente, a investigação destas burlas fica a cargo da GNR, PSP e, principalmente, da PJ que, segundo Manuel Castro, têm demonstrado "um grande empenho e um trabalho eficaz".
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