“Fiquei atordoado, completamente sem palavras”, depois do telefonema feito pelo presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão, pouco antes de o prémio ser anunciado, conta Frederico Lourenço, que está a ter “uma tarde estranha”, com o seu telemóvel a não parar de tocar, algo que raramente acontece.
Para Frederico Lourenço, professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o prémio, que o deixou “muito feliz e muito sensibilizado”, é o reconhecimento do seu trabalho enquanto docente universitário “na área de estudos clássicos” e enquanto tradutor de textos de grego antigo.
O galardão que lhe foi hoje atribuído é também “muito importante para as pessoas terem consciência da existência e da importância dos estudos clássicos, tanto o grego como o latim”, sublinha o filólogo que ganhou uma “apetência” pela língua grega, ao fim de duas semanas, depois de começar a estudar Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa.
As duas línguas, frisa, “devem continuar a ser estudadas e ensinadas no país, idealmente no ensino secundário e no ensino universitário”.
“São línguas que nos dão acesso a uma cultura, a uma literatura, a um universo que nos é importante para refletir os caminhos do futuro”, vincou.
O Prémio Pessoa 2016 nasceu em Lisboa, em 1963, é licenciado em Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, onde fez o doutoramento com uma tese sobre os cantos líricos de Eurípides (“The Lyric Metres of Euripidean Drama”), e onde lecionou, de 1988 a 2009, antes de assumir o lugar de professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde se mantém.
Frederico Lourenço, que é escritor, tradutor e professor, entende que é a docência aquilo que mais o define de todas as coisas que faz.
“Gosto muito de estudar assim como de ensinar o grego, que é algo que faço com paixão e empenho”.
A tradução de grandes obras da literatura grega antes e depois de Cristo é outra atividade que faz “por paixão”, mas também por “sentir que é importante que isso seja feito”.
Depois de acabar de traduzir de forma integral a Bíblia grega, o docente afirma que quer “continuar a fazer investigação no primeiro cristianismo [os primeiros 100 anos após Cristo]”.
Nos últimos vinte anos, Frederico Lourenço traduziu a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero, bem como duas tragédias de Eurípides, “Hipólito” e “Íon”, e lançou este ano o seu mais recente projeto, o primeiro volume – do total de seis – da tradução integral da Bíblia, para português, a partir das fontes gregas.
O júri do Prémio Pessoa 2016 sublinhou hoje, em Sintra, que a atividade do escritor e filólogo Frederico Lourenço tem como “traço singular” ter oferecido “à língua portuguesa as grandes obras de literatura clássica”.
O galardoado “constitui um exemplo de disciplina, capacidade de trabalho e lucidez intelectual no elevado plano dos estudos clássicos e humanísticos, parte fundamental da vida cultural e científica dos países desenvolvidos”, salientou o presidente do júri, Francisco Pinto Balsemão, sobre a escolha.
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