Oleksandra Matviychuk, fundadora do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, afirmou, em conferência de imprensa realizada em Oslo, na Noruega, que “deve ser criado um tribunal internacional para responsabilizar Putin, (o Presidente bielorrusso, Alexander) Lukashenko e outros criminosos de guerra”.
O Centro de Liberdades Civis da Ucrânia foi nomeado, em outubro, vencedor do Nobel da Paz de 2022, juntamente com o grupo russo de direitos humanos Memorial e Ales Bialiatski, diretor do grupo bielorrusso de direitos humanos Viasna.
Na conferência hoje realizada, Oleksandra Matviychuk classificou o conflito na Ucrânia como “um genocídio” e disse que “se a Ucrânia parar de resistir, deixará de existir um ‘nós’ [ucranianos]”.
A advogada de direitos humanos e ativista também rejeitou a possibilidade de serem realizadas negociações para acabar com o conflito, explicando que a Rússia “vê qualquer tentativa de diálogo como um sinal de fraqueza”.
A atribuição do Nobel da Paz às três entidades foi vista como uma forte repreensão a Putin, não apenas pelas ações da Rússia na Ucrânia, mas pela repressão aos opositores do regime e pelos laços estreitos do Presidente russo com o autoritário Lukashenko, que reprimiu brutalmente protestos em 2020 após uma eleição presidencial amplamente considerada manipulada.
Também presente na conferência de imprensa, o presidente da organização Memorial Internacional, Yan Rachinsky, garantiu que não está preocupado com a sua segurança face à repressão russa, mas admitiu que “a situação dos defensores dos direitos humanos na Rússia é, atualmente, muito difícil”.
“Muitos estão presos há muito tempo. Alguns estão a ser perseguidos. E é improvável que a situação melhore num futuro próximo”, afirmou, assegurando, no entanto, que o trabalho dos ativistas “vai continuar”.
Apesar de ser uma das mais antigas e proeminentes organizações de direitos humanos do país, a Memorial foi declarada pelo Kremlin como “agente estrangeiro” em 2016, rótulo que implica um escrutínio adicional e tem fortes conotações pejorativas.
Em dezembro de 2021, o supremo tribunal da Rússia encerrou a organização, aclamada pelos seus estudos sobre a repressão política na União Soviética.
Bialiatski não pode comparecer em Oslo para receber o prémio, que será entregue formalmente no sábado, já que está preso na Bielorrússia.
Apesar de não ter tido permissão para enviar um discurso para a cerimónia do Nobel, a sua mulher, Natalia Pinchuk, planeia fazer uma intervenção em seu nome.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.702 civis mortos e 10.479 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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