Segundo a autarquia, numa primeira fase o projeto está focado na captura da drosófila de asa manchada, a chamada suzukii, e na otimização do seu combate, mas, posteriormente, o sistema prevê a monitorização de outros problemas, estando a ser analisada a possibilidade de estas armadilhas, de controlo remoto poderem apanhar os insetos vetores da xylella fastidiosa.
A engenheira Anabela Barateiro salientou, em declarações à agência Lusa, que a drosófila suzukii “é a praga mais importante em cereja neste momento”, para a qual “não existem muitas soluções de controlo em termos fitossanitários”.
As armadilhas inteligentes permitem, sem a deslocação constante ao local onde existem atualmente armadilhas cromotrópicas e de feromona, que atraem a suzukii pela cor vermelha, ou libertando uma substância sexual que atrai os machos, que a monitorização passe a ser feita à distância para perceber como a praga se está a comportar em cada área e se está na hora de intervir.
“Conseguimos perceber mais ou menos, em função da quantidade de praga presente naquele momento, se está mais ou menos ativa e se está ou não no momento de intervir quimicamente. Estes sistemas permitem que haja uma assertividade muito maior nos tratamentos que são feitos e na necessidade de os fazer efetivamente”, explicou a técnica da Apizêzere (Associação de Produtores e Proteção Integrada do Zêzere), que acompanha cerca de 300 produtores, nem todos do Fundão.
Anabela Barateiro acentuou os prejuízos provocados pela suzukii, não apenas na perda de produção, mas também no impacto que pode ter no consumidor, se a fruta for embalada sem se perceber que está picada e apodrecer até chegar ao mercado.
Esta responsável salientou ser uma praga que ataca muito os frutos vermelhos, mais fácil de controlar no caso das framboesas ou mirtilos, por causa das estufas, o que não acontece com a cereja.
Anabela Barateiro acrescentou ser uma praga detetada todo o ano, que se adapta facilmente a climas diferentes, vê-se nos pomares ao mesmo tempo em vários estádios de desenvolvimento, o que dificulta a eficácia do tratamento, e que começa a fazer estragos quando a cereja ainda está verde, injetando-lhe uma substância que leva ao seu apodrecimento, “depreciando consideravelmente a qualidade da fruta e diminuindo drasticamente as produções”.
“Com as armadilhas inteligentes, é muito pouco expectável que se consiga o controlo completo da praga, mas é possível mantê-la em níveis que não causem prejuízos consideráveis aos agricultores”, salientou.
“É possível minimizar o estrago”, acrescentou à Lusa.
Segundo a técnica da Apizêzere, sabendo antecipadamente que a praga já está a aparecer, pode-se mais facilmente passar a mensagem aos produtores que “está na altura de colocar as armadilhas de captura em massa ou fazer as intervenções fitossanitárias”, vincou Anabela Barateiro.
A monitorização remota, sem obrigar à deslocação “numa região ampla”, porque “há grandes oscilações de local para local”, antecipa decisões e torna o processo mais eficiente, permitindo a recolha de dados para análise.
A técnica da Apizêzere deu o exemplo de 2018, ano em que a drosófila suzukii causou mais prejuízos, atingindo 20 a 30% da produção de cereja em parcelas dos cerca de 600 hectares a que a associação dá apoio.
A Câmara do Fundão destacou, em comunicado, a “vantagem competitiva” que representa o tratamento e disponibilização dos dados recolhidos na atividade agrícola e, por isso, pretende implementar uma “solução integrada” que permita esse trabalho, em contínuo, em todo o concelho.
O município de onde sai 60% da produção nacional de cereja está também a instalar, em rede, um conjunto de estações meteorológicas para disponibilizar a informação no momento, através de uma plataforma digital, tal como relatórios climáticos mensais sobre a temperatura e humidade relativa, precipitação, humectação, folha molhada, horas de frio, radiação solar e velocidade do vento.
Os dados recolhidos através dos novos instrumentos serão disponibilizados a todos os agricultores e associações, recorrendo a um trabalho em rede de cruzamento de informações, também trabalhados por outras entidades, como a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, os Laboratórios Colaborativos e as universidades.
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