“Naturalmente que é com grande preocupação que vi essas notícias, sobretudo porque põem em causa as instituições. E a melhor forma de superar as suspeitas sobre as instituições é de se investigar profundamente e de penalizar quem tiver de ser penalizado. Portanto, essa é a nossa esperança e expectativa”, declarou o chefe da diplomacia portuguesa, à margem de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), em Bruxelas.
João Gomes Cravinho reagia às notícias da investigação policial lançada pelas autoridades belgas que levou à detenção de várias pessoas, entre as quais uma vice-presidente do Parlamento Europeu, a deputada grega Eva Kaili, por alegado envolvimento num caso de corrupção relacionado com subornos do Qatar para influenciar as decisões do Parlamento Europeu relativas à celebração da edição de 2022 do Mundial de futebol naquele país.
Já quanto à proposta de hoje da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no sentido de ser criado um órgão independente de ética que abranja todas as instituições europeias, o ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) português mostrou pouco entusiasmo, comentando que há leis e que quem prevarica não deixará de o fazer devido à “existência de uma comissão”.
“Eu penso que o Parlamento Europeu deve auto-regular-se. Agora, existem leis que têm de ser respeitadas, e tanto assim é que estamos exatamente a ver as leis a serem impostas. E quando há a vontade de ter um comportamento que não é ético, não é a existência de uma comissão que vai fazer a diferença. Infelizmente, parece ser esse o caso”, declarou.
Um juiz belga decidiu no domingo acusar a vice-presidente Eva Kaili, deputada da bancada dos Socialistas Europeus (S&D), juntamente com outras três pessoas - incluindo o seu companheiro, o italiano Francesco Giorgi - pelo crime de participação em organização criminosa, branqueamento de capital e corrupção.
A investigação foi aberta pela justiça belga, por suspeitas de um lóbi ilegal do Qatar para influenciar decisões políticas do Parlamento Europeu.
Hoje mesmo, a Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais grega confiscou os bens (imóveis, contas bancárias, empresas) no país detidos pela eurodeputada e pelos seus familiares mais próximos.
A apreensão dos bens de Eva Kaili e dos seus familiares mais próximos na Grécia foi ordenada pelo chefe da Autoridade de Combate ao Branqueamento de Capitais e procurador-adjunto da Supremo Tribunal grego, Jaralabos Vurliotis, com a justificação de que é possível que sejam provenientes de atividades ilegais.
O pai de Eva Kaili também está envolvido no caso, já que na sexta-feira a polícia o deteve em flagrante num hotel com um saco com 600 mil euros em dinheiro, com o qual pretendia fugir.
Segundo os meios de comunicação gregos, outros 150.000 euros foram encontrados em malas numa busca realizada na casa da eurodeputada em Bruxelas.
Os socialistas do Parlamento Europeu decidiram no sábado suspender Kaili do grupo parlamentar, enquanto as suas funções como vice-presidente foram suspensas pela presidente do Parlamento Europeu, a maltesa Roberta Metsola.
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