"Pouco importa quem é o pedófilo. Nos últimos anos têm aparecido um suspeito, um pedófilo, uma figura que encaixe no perfil", disse Gonçalo Amaral numa entrevista conduzida por José Alberto Carvalho. "É um suspeito quase perfeito", reiterou.
Segundo a TVI, foi a primeira vez que o ex-inspetor falou sobre Christian Brueckner, cidadão alemão e pedófilo reincidente atualmente sob prisão em Kiel, no norte da Alemanha, que na altura morava a alguns quilómetros do hotel de onde a criança britânica desapareceu e o principal suspeito no caso.
Depois, salientou que para considerar o suspeito como culpado é preciso que se "prove primeiro que tenha havido um rapto".
Questionado sobre se já tinha algum conhecimento do envolvimento do suspeito neste caso, respondeu que, "na altura, só se sabia que este homem era pedófilo". Todavia, salientou que em 2007 estava identificado.
Gonçalo Amaral aproveitou a ocasião para revelar também novas fotografias nas quais a carrinha caravana Volkswagen — que o suspeito usou para viver e se deslocar em 2007 — está com uma pintura personalizada e com desenhos, estando diferente das imagens divulgadas pelas autoridades alemãs, onde aparece branca e amarela.
"Será que essa viatura passaria despercebida na Praia da Luz ou noutra localidade qualquer? Seguramente que não", interrogou, questionando igualmente as razões pelas quais diz terem alterado "as imagens da autocaravana", que foi levada para a Alemanha para ser examinada e em Portugal "servia como depósito de figos e alfarrobas."
"O que se pergunta ainda é: será que as autoridades alemãs chegaram à conclusão que na altura de 2007 a viatura não estava assim, mas estava ainda pintada de branco? Quem lhes disse isso? Será que as autoridades — ou inglesas que eu não sei quem é que fez isto, pois seguramente não foi em Portugal — que divulgaram isto está a tentar checkar informação? Para receber um telefona a dizer ah, eu vi a viatura no sítio tal? Esqueçam, ninguém viu nada porque a viatura era de outra forma", salientou.
Sobre a origem das fotografias que trouxe durante a entrevista, revelou apenas que "foram tiradas no Algarve".
"Há aqui uma situação diferente"
Gonçalo Amaral disse que havia uma "situação diferente" sobre o "bode expiatório", referindo-se a Christian Brueckner.
"Há um dado novo. É um dado que ainda não chegaram lá em termos de informação. Largou-se a bomba, foi dito que o suspeito é parecido com um... que não é. As imagens que são de um [homem] com 43 anos. Nas minhas imagens de 2013 eu estou completamente diferente. As pessoas mudam. [Outro] dado é que as autoridades parece que estão a querer a reexaminar todos os vestígios hepáticos e biológicos que tenham sido encontrados. Onde?", começou por dizer.
"Só há três sítios onde foram encontrados vestígios: no apartamento [alugado pelos McCann], na rua — onde há sangue — e dentro da viatura do casal, alugada não sei quantos dias depois. Este é que é o dado novo. É esta a grande questão (...) Até pensei que fosse uma tradução errada quando um dirigente da polícia alemã diz que a criança pode ter sido alvejada dentro do apartamento. Isto quer dizer o quê? Que houve sangue", afirmou.
Gonçalo Amaral durante a entrevista teceu críticas não só os pais de Madeleine McCann, mas todos aqueles que estiveram presentes na noite do seu desaparecimento. "Todos aqueles pais deixaram os filhos ao abandono".
O ex-inspetor também afirmou que "no dia anterior ao rapto, a criança [Madeleine] esteve a chorar a gritar pelos pais" e salientou que "quem começou com a tese de homicídio foram as autoridades inglesas".
Para terminar, José Alberto Carvalho perguntou se na opinião o caso iria ficar encerrado e se tinha esperança na sua resolução. Gonçalo Amaral respondeu que tinha estado a "almoçar com um amigo" em quem confiava e que este lhe tinha dito que sim. No entanto, "muita coisa vai ainda acontecer" e "podem passar outros 13 anos".
Madeleine McCann desapareceu em 3 de maio de 2007, poucos dias antes de fazer quatro anos, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico na Praia da Luz e o seu desaparecimento tornou-se um caso mediático à escala global.
A polícia britânica começou por formar uma equipa em 2011 para rever toda a informação disponível, abrindo um inquérito formal no ano seguinte, tendo até agora gasto perto de 12 milhões de libras (14 milhões de euros) no processo.
A Polícia Judiciária (PJ) reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria Geral da República em 2008, ilibando três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro britânico, Robert Murat.
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