A decisão, que a imprensa australiana considera o “mais forte sinal até agora” de que Camberra está interessada em avançar no desenvolvimento do projeto no Mar de Timor, foi confirmada pela chefe da diplomacia australiana, Penny Wong.
Wong disse que a nomeação de Steve Bracks demonstra o “compromisso do Governo com o desenvolvimento mutuamente benéfico e comercialmente viável dos campos de gás do Greater Sunrise”, projeto que considerou “fundamental para o desenvolvimento económico e a resiliência” de Timor-Leste.
“O Governo australiano quer ver o desenvolvimento do Greater Sunrise de uma forma comercialmente viável que apoie o desenvolvimento económico de Timor-Leste e maximize os benefícios para todas as partes, consistente com o Tratado de Fronteira Marítima”, disse em comunicado citado pela Australian Financial Review.
“Como representante especial, Seteve Bracks representará o governo australiano e consultará o Governo de Timor-Leste e outras partes interessadas importantes, incluindo o Consórcio do Greater Sunrise”, disse.
Wong destacou o facto de Steve Bracks ter “profundo conhecimento de Timor-Leste e uma relação próxima com seu povo e líderes como resultado” de um empenho em proximidade ao longo de vários anos.
O jornal Australian Financial Review refere que Steve Bracks tem fortes laços a Timor-Leste.
A nomeação surge depois da visita de Penny Wong a Timor-Leste em setembro e da posterior visita de Estado do Presidente timorense José Ramos-Horta à Austrália, em que o projeto do Greater Sunrise foi o tema dominante na agenda.
Localizado a 150 quilómetros de Timor-Leste e a 450 quilómetros de Darwin, o projeto tem estado envolto num impasse, com Díli a defender a construção de um gasoduto para o sul do país e a Woodside, segunda maior parceira do consórcio, a defender a sua ligação à unidade já existente em Darwin.
Nos últimos meses têm-se intensificado os contactos entre as partes, com o tratado de 2019 que definiu as fronteiras marítimas entre os dois países a prever a assinatura de um contrato de partilha de produção, além de outros quadros técnicos.
O projeto tornou-se particularmente urgente perante o risco de que Timor-Leste possa enfrentar, já em 2034, um precipício fiscal com o fim do Fundo Petrolífero que atualmente financia a quase totalidade do Orçamento Geral do Estado (OGE).
Este fim de semana o antigo Presidente timorense Xanana Gusmão — e negociador principal do tratado permanente de fronteiras – defendeu que não serão outros Governos e muito menos empresas a impedir que Timor-Leste consiga implementar o sonho de ter um gasoduto para a costa sul do país.
“Se os timorenses estão decididos que este é o caminho, não serão outros Governos e muitos menos entidades comerciais que nos irão afastar do nosso caminho, da nossa visão e do nosso sonho: o de construir um futuro sustentável para o nosso país e o nosso povo”, afirmou num seminário em Díli.
“Trazer o gasoduto para Timor-Leste exige visão, muito esforço e muito trabalho e capacidade de atrair investimento. Mas cabe a Timor-Leste e não a outros sonhar os seus próprios sonhos e lutar pelas suas causas”, disse.
O jornal australiano nota que em 2019 Bracks defendeu que o então Governo australiano deveria apoiar Timor-Leste a atrair um parceiro de financiamento para desenvolver o Greater Sunrise, ou, se isso não acontecesse, a China poderia vir a apoiar o projeto.
Bracks foi uma das vozes mais criticas da espionagem australiana a Timor-Leste em 2004 durante as negociações com Díli relativamente ao que acabaria por ser o Tratado do Mar de Timor.
Steve Bracks, que já visitou Timor-Leste mais de 40 vezes desde a restauração da independência em 2002, é considerado um dos maiores amigos do país na política australiana, tendo apoiado diretamente e pro Bono o Governo timorense em várias ocasiões.
A sua própria página online nota que o seu interesse em Timor-Leste começou quando era chefe do Governo do estado de Victoria, tendo visitado Díli em 2002 e 2003, neste último caso para apoiar a abertura do Balibo House Trust, na vila fronteiriça onde cinco jornalistas australianos foram mortos por soldados indonésios em outubro de 1975.
Quando Xanana Gusmão assumiu o cargo de primeiro-ministro em agosto de 2007, um mês depois de Bracks se demitir como chefe do Governo de Victoria, o político trabalhista ofereceu-se para apoio adicional a Timor-Leste.
Com uma doação do filantropo Harold Mitchell, acabou por nascer o Bracks Timor-Leste Governance Project no âmbito do qual visitou Timor-Leste mais de 40 vezes como conselheiro especial de Xanana Gusmão e, posteriormente, do seu sucessor, Rui Maria de Araújo.
A escritora e investigadora australiana Kim McGrath, autora do livro “Passar dos Limites – A História Secreta da Austrália no Mar de Timor”, tem gerido o projeto desde a sua criação.
Entre outras iniciativas, o projeto contribuiu para o rascunho do Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030, tendo apoiado igualmente Timor-Leste no processo de negociação da fronteira marítima permanente com a Austrália.
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