“Não temos ainda o projeto concreto, por isso é impossível avançar com um orçamento concreto. E no futuro, tendo em conta o erário público, vamos convidar o Comissariado da Auditoria (CA) e o CCAC (Comissariado Contra a Corrupção) para integrar o grupo de trabalho [composto por elementos do Instituto Cultural e das Obras Públicas]”, disse Ung Vai Meng na Assembleia Legislativa (AL).
O presidente do Instituto Cultural (IC) falava numa apresentação do projeto da nova biblioteca central da Região Administrativa Especial de Macau aos deputados, pedida há dois meses pelo presidente da AL, Ho Iat Seng.
A atual biblioteca central funciona num dos edifícios de arquitetura portuguesa na praça do Tap Seac, e o governo quer construir uma nova nos dois edifícios onde funcionavam o antigo tribunal e a Polícia Judiciária (PJ), também no centro da cidade, com um total de 11 pisos, 3.000 metros quadrados e 53 metros de altura no máximo.
O projeto começou a ser discutido há cerca de dez anos, foi suspenso após uma investigação do CCAC, e foi mais tarde assumido pelo Instituto Cultural, em conjunto com as Obras Públicas.
Já este verão, o projeto gerou nova polémica com a divulgação do custo estimado da obra (900 milhões de patacas ou quase 100 milhões de euros), valor que o presidente do IC disse, semanas mais tarde, poder vir a baixar para 700 milhões de patacas, consoante a inflação.
Hoje, além de pedirem explicações sobre o orçamento da obra, alguns deputados sugeriram que as antigas instalações do tribunal e PJ sejam utilizadas para escritórios do governo e que a biblioteca central seja construída nos novos aterros, para evitar congestionamentos no estacionamento, e circulação automóvel e de pessoas no centro, face à afluência prevista de até 8.000 utentes por dia.
Outros deputados concordaram com a localização defendida pelo governo, mas manifestaram reservas quanto à dimensão do projeto. Um deputado questionou o eventual aumento dos custos com a construção de pisos no edificado existente e respetiva manutenção.
Ung Vai Meng respondeu que o local do antigo tribunal é o adequado para a nova biblioteca devido à procura dos leitores e por ser no centro da cidade. Afirmando que “a população já esperou demasiado tempo”, defendeu que a nova biblioteca central “vai servir para os próximos 100 anos” e que “não vai ser um grande monstro por cima de um edifício antigo”.
“Temos urgência. Se esperarmos a conclusão das obras dos novos aterros, talvez tenhamos de esperar mais duas gerações para ter uma nova biblioteca central. E por isso não vamos escolher outro local”, disse.
“Podemos não fazer nada, só que nós não podemos fazer isso. Não acha que esta é uma obra cultural? A mais importante após o retorno à pátria? As nossas coleções antigas, os nossos livros preciosos têm de ter um local próprio para o seu armazenamento. Não somos nenhuns santos, podemos cometer erros, só que temos que avançar com o nosso trabalho, porque a futura biblioteca vai ser a alma da nossa cultura”, acrescentou Ung Vai Meng numa das respostas.
O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, destacou o “valor cultural” do projeto e afastou as sugestões para a construção “na zona norte da cidade ou nos futuros aterros”. “Temos 200 coleções desde a dinastia Ming e obras em português. São coleções que só Macau dispõe. Se construirmos numa zona nova perde-se esse sabor e (…) construir num edifício de arquitetura antiga é um bom trabalho, uma boa solução”, afirmou.
Já o presidente da AL disse que “o governo deve levar em consideração as opiniões dos deputados para que a implementação do projeto não encare muitos obstáculos” e questionou o século de vida estimado para o futuro espaço, com dúvidas sobre a longevidade do betão do edifício do antigo tribunal.
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