Para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, Guterres falou perante a Assembleia Geral da ONU, onde alertou que a discriminação racial e os “legados da escravidão e do colonialismo continuam a arruinar vidas, a marginalizar comunidades e a limitar oportunidades”, impedindo que milhares de milhões de pessoas alcancem todo o seu potencial.

Apontando o dedo a governantes, o ex-primeiro-ministro português indicou que a “tolerância oficial” ao racismo pode alimentar as tensões e desencadear violência e crimes atrozes, como o “genocídio”.

“O racismo não é inato, mas uma vez aprendido, pode assumir um poder destrutivo próprio. (…) Isso aconteceu catastroficamente ao longo da história. Não precisamos de lembrar que o racismo e a discriminação racial podem ser passos no caminho do genocídio”, frisou.

“A xenofobia, o preconceito e o discurso de ódio estão a aumentar. Líderes políticos usam migrantes como bodes expiatórios, com impacto devastador. Influenciadores da supremacia branca lucram com o racismo nas redes sociais. Algoritmos de inteligência artificial amplificam e digitalizam a discriminação racial”, disse.

O secretário-geral observou que após um período de maior conscientização global sobre o racismo, alguns países enfrentam agora uma reação violenta contra políticas e práticas antirracistas.

Nesse sentido, Guterres defendeu a implementação de iniciativas e programas para eliminar a discriminação racial e proteger os direitos das minorias, classificando-os como investimentos na prevenção de crises e na paz.

“Precisamos de resistir e reverter essas tendências, condenar e eliminar a discriminação racial em todas as suas formas. Devemos agir para combater o racismo onde e quando ele surgir, inclusive através de canais legais”, apelou.

Ao marcar o 75.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o líder das Nações Unidas instou todos os Governos a adotar, até dezembro deste ano, um plano de ação nacional abrangente e com prazo determinado para combater o racismo e a discriminação racial.

“Esses planos devem incluir legislação e políticas antidiscriminação informadas por provas e dados. (…) Apelo hoje a todos os Estados para que ratifiquem a Convenção e implementem as suas obrigações e compromissos sem demora. Devemos transformar a vontade política em ação abrangente, com aqueles que sofrem racismo e discriminação racial no centro”, sublinhou.

O número de pessoas que tiveram de deixar as suas casas devido a perseguições, guerras e violações de direitos humanos ultrapassou, em 2022, os 100 milhões.

O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial assinala-se, anualmente, a 21 de março. Este dia foi estabelecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas em outubro de 1966.

Também o presidente da Assembleia Geral da ONU, Csaba Korosi, assinalou o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, homenageando aqueles que lutaram e continuam a combater todas as formas de racismo e discriminação.

O diplomata húngaro reforçou que os legados dos sistemas racistas da escravatura, do ‘apartheid’ e da segregação ainda podem ser sentidos “nas nossas comunidades, instituições e mentes”.

“Como um vírus, o racismo sofre mutações e adapta-se a diferentes tempos e contextos. Diz-se que ‘o racismo é como um Cadillac, há um modelo novo todos os anos’. De fato, as suas manifestações e sintomas podem mudar, mas a amplitude dos seus danos permanece intacta”, reconheceu.

Para Korosi é fundamental regulamentar as redes sociais, que podem ser usadas para difundir campanhas de violência extrema e que podem chegar longe, como o fomento do genocídio.

“Governos e empresas de tecnologia devem trabalhar juntos para regulamentar as plataformas virtuais e conter o ódio onde quer que apareça e em todos os idiomas em que aparece”, apelou.