“Quantos homens ganharam consciência na Guiné de que era preciso acabar com a guerra”, foi a pergunta retórica deixada por Jerónimo de Sousa, na intervenção que fez após visitar uma exposição sobre a vida e obra de Amílcar Cabral, “pai” das independências da Guiné-Bissau e Cabo Verde, patente no Palácio Baldaia, em Lisboa.
O ex-secretário-geral do PCP recordou ter feito o serviço militar, tinha então 19 anos, na Guiné-Bissau, e que tanto ele como outros camaradas de armas perceberam “o sentimento de que participaram numa guerra sem sentido”.
Jerónimo de Sousa participou na conversa, que se seguiu à visita à exposição, juntamente com outro militante comunista, o médico Mário Moutinho de Pádua, que fez o serviço militar em Angola e Guiné-Bissau.
O médico recordou que conheceu Amílcar Cabral em Argel, para onde se dirigiu após desertar do exército português para se juntar a outros portugueses que lutavam contra a ditadura colonial portuguesa.
Depois de conhecer Amílcar Cabral, Mário Moutinho de Pádua ofereceu-se para trabalhar como médico das áreas libertadas da Guiné-Bissau e sob administração do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo verde (PAIGC), fundado, entre outros, por Cabral.
Na sua intervenção, Mário Moutinho de Pádua envolveu-se numa acesa troca de palavras com o tenente-coronel reformado Manuel Duran Clemente, que questionou algumas das referências relativas a Angola.
Duran Clemente, que recordou ser um “capitão de Abril”, com comissões de serviço em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, questionou, designadamente, as referências de Mário Moutinho de Pádua aos portugueses que eram enviados para Angola, rejeitando a classificação de “colonos” feita pelo médico.
O tenente-coronel Duran Clemente questionou ainda a organização do evento, enquadrado nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril, por não convidar “nenhum capitão de Abril”.
“Amílcar Cabral, uma exposição”, inaugurada em 16 de março, está aberta ao público até 25 de junho.
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